Ora! Música também é cultura, se é cultura interessa a nós nerds e se interessa a nós nerds, está em Nerdópolis.
Recentemente um clipe musical se tornou o novo viral da internet, e não é um viral qualquer, mas um viral carregado de recordes (e me atrevo a dizer, vencedor de todos, ou quase todos, os prêmios da música que ele puder concorrer).
Donald Glover (recentemente no papel de Lando Calrissian), que usa a alcunha de seu personagem Childish Gambino, conseguiu fazer uma obra vídeo-musical que parece ser uma unanimidade aos olhos e ouvidos de quem a conhece.
Tanto a música quanto o videoclipe é um caldeirão cheio de ingredientes muito bem dosados para produzirem uma obra de sucesso.
Musicalmente temos uma melodia que mescla sutilmente a herança musical africana, para alternar para um rap sombrio, mas, com muito ritmo; temos a composição de uma sonoridade chiclete (no melhor sentido da palavra) e que será normal caso ela fique alguns dias agarrados na sua cabeça; e enfim, uma letra com aprofundamento e mensagem que fica melhor compreendida quando somada ao videoclipe.
Então vamos falar do clipe:
Em meio há tempos tão sombrios de nossa humanidade, quanto à individualidade, igualdade; com o que aparenta ser um aumento do racismo e preconceito ao mesmo tempo em que poucas vezes se falou tanto disto. Temos todo um apelo de conscientização (algumas vezes não bem executado) dentro de muitas obras e por toda a arte atual. Surge “This is America”, uma obra como a muito tempo não se vê no meio musical, pois não trata-se apenas de um novo hit na boca de muitos, mas de algo que também consegui alcançar mente e consciência de forma positivamente impactante.
As referências sobre racismo, preconceito, violência e vários aspectos nocivos que ainda estão entranhados em nossa sociedade são tamanhos, que amplos debates e análises em relação ao que se transmite em cada gesto, coreografia e expressão do artista; enquadramento em cena; sequência de cena; tem ganhado mais espaço na internet.
O clipe começa de forma tranquila com uma música alegre e envolvente, que vai se “distorcendo” sutilmente, juntamente com o comportamento do artista, até que de forma brutal (e isso não é metáfora) ele começa a te bombardear com uma enxurrada de informações, mensagens (diretas ou subliminares) e inovações rítmicas e conceituais.
Referências ao falecido jovem estadunidense Trayvon Martin; a cultura armamentista; Jim Crow de Thomas D. Rice; violência contra os negros; banalização do suicídio, da morte; mídia e alienação; a morte do coral de Charleston na Carolina do Sul; escravidão e muitas outras mensagens.
Mas se perguntarem para este Nerd Velho, o que torna este clipe uma nova febre?
Eu diria que o principal fator é que Donald Glover conseguiu criar algo tão em falta hoje em dia, que quando as pessoas têm contato, esta é a reação comum, uma viralização e reconhecimento de que estão diante de algo raro, algo que não se vê todos os dias, uma obra-prima que nos deleita com o novo; com arte verdadeira (sem relativismos, o que explica a sua quase unanimidade); original, impactante e que por priorizar em ser bem feita (e não apenas passar mensagens; levantar bandeiras ou te empurrar goela abaixo, o que infelizmente tem sido o comum na arte), consegue arrancar de quem assiste a obra, simpatia, interesse, empolgação, emoção e reflexão.
Ainda há boa música no futuro. Ainda há boa (inteligente) arte.
“Esta é a América! Não dê mole, cara!”