Especial Dia Nacional do RPG

Finalmente! Não é necessário muito preparo para poder falar daquilo que habita a alma há mais de 2 décadas. Dia 24 de Fevereiro comemoramos pela primeira vez o dia do RPG no Brasil, e o Mundo Guerreiro têm o dever de falar sobre essa atividade incrível que começou de forma sutil em nosso país, recebeu status de culto/seita, assustou alguns pais, virou notícia de TV, e com o passar dos anos, foi alcançando a popularidade e reconhecimento que merece. Prepare sua planilha, lance os dados e embarque nessa bateria com o nosso grupo!

Se você quer saber mais sobre a origem desse jogo, siga por esse caminho.

ORIGEM

O primeiro RPG (Role Playing Game) moderno e comercializado foi o famoso Dungeons & Dragons, criado por Gary Gygax e Dave Arneson, em 1974. Poderíamos ir muito além, e comentar que a verdadeira origem da atividade de interpretar personagens é milenar, sendo documentada pela primeira vez durante a Dinastia Han (há mais de 2000 anos atrás), onde eventos eram organizados para que pessoas pudessem interpretar personagens de eras passadas. Diálogos eram improvisados e o entretenimento era o maior objetivo.

Na Europa do século 16, times de jogadores viajavam fazendo performaces em grupo, numa forma de teatro amador conhecido pelo nome de Commedia dell’arte, com personagens, situações e diálogos improvisados. No século 19 e início do século 20, vários board games começaram a incluir elementos de interpretação de personagens, mas ainda sem as regras formais que caracterizariam os jogos de RPG modernos.

H.G Wells jogando Little Wars, em 1913.

Enquanto isso, os jogos de guerra e estratégia, como o Xadrez, se tornariam cada vez mais populares nas diversas camadas da população de diferentes povos e épocas, seja como instrumento de ensino militar, histórico ou mesmo como hobby. Alguns jogos de guerra começariam a simular motivações e diferentes cenários, aumentando a complexidade e objetivo dos mesmos. O famoso escritor H. G. Wells criou, no início do século 20, dois livros com regras para o uso de miniaturas em jogos de guerra, com a intenção de ganhar o grande público. O RPG moderno nasceria pouco mais de 50 anos depois.

Jogue um D20.

Dungeons & Dragons

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Depois de diversas experiências com jogos de estratégia, principalmente com o jogo histórico Chainmail em 1971, Gary Gygax e Dave Arneson criaram juntos aquele que seria considerado o maior RPG de todos os tempos: Dungeons & Dragons. Dave Arneson havia criado antes um cenário de fantasia medieval chamado Blackmoor, onde conceitos como HP (pontos de vida), pontos de experiência, nível, classe de armadura, etc foram primeiramente criados e testados.

Blackmoor ainda introduziria o conceito de criação de objetivos para os personagens como parte fundamental do jogo, unindo a utilização de miniaturas, grids e mapas, dos jogos de guerra e estratégia, do Chainmail. Jogadores e mediadores de ambos os jogos seriam os responsáveis pelas primeiras aventuras que dariam origem ao Dungeons & Dragons, sendo publicado como um jogo de nicho em 1974. Seus criadores não esperavam que o jogo fosse crescer tão rapidamente em popularidade, e lançamentos de suplementos e novas aventuras eram apenas o início.

No final da decáda de 70, início dos anos 80, vários outros sistemas começaram a ser criados. Convenções nos EUA sobre RPG começaram a surgir. Em 1976, a primeira revista criada exclusivamente para falar sobre esse novo hobby seria criada: Dragon Magazine. Novos cenários como Gammaworld e Runequest foram criados em 1978. Entre o ano de 1977 e 1979, a editora de Gygax, a TSR, lançaria seu projeto mais ambicioso até então: Advanced Dungeons and Dragons (AD&D), expandindo as regras e cenários, criando uma enorme lista de monstros, itens e mágicas a serem usadas por players e dungeon masters.

Em Terras Tupiniquins

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Enquanto veríamos nos EUA, na década de 80, o lançamento de jogos como Call of Cthulhu, Champions, Gurps e Ars Magica, no Brasil, a editora Devir era fundada em 1987 em São Paulo por Douglas Quinta ReisMauro Martinez dos Prazeres e Walder Mitsiharu Yano. A Devir seria a responsável pela tradução e comercialização de jogos como D&D e Gurps. No início dos anos 90, a editora traduziria também a nova febre que tomaria conta do cenário RPGístico nacional e internacional: Vampiro, a Máscara.

A Devir também faria a distribuição e promoção do cardgame Magic: The Gathering na língua portuguesa, iniciando em 1995, e na língua espanhola a partir de 2000. A editora também já teve no seu catálogo histórias em quadrinhos de autores brasileiros como Laerte, Angeli, Adão Iturrusgarai e Lourenço Mutarelli. No mercado de RPG, a Devir era até 2010 representante de três das maiores editoras norte-americanas: a Steve Jackson Games (GURPS), White Wolf (Vampiro, Lobisomem, Mago) e Wizards of the Coast (Dungeons & Dragons, Magic the Gathering).

Ainda na década de 90, tivemos o lançamento da Dragão Brasil. Uma das primeiras revistas sobre RPG no país, pela editora Trama, Ela trazia informações sobre AD&D, Gurps e adaptações de filmes, games e animes para os principais sistemas. Além de matérias e adaptações de RPG, a revista trazia contos de fantasia, ficção científica e histórias em quadrinhos. Logo depois entrariam para a equipe J. M. TrevisanRogério Saladino (ex-editor da Dragon Magazine nonBrasil pela editora Abril). Marcelo Cassaro, editor da revista, junto com outros membros da equipe, também seria responsável pela criação de sistemas nacionais e cenários próprios, como Arkanun e, posteriormente, Tormenta.

Homenagem e Criação do Dia Nacional

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Dia Nacional do RPG, dia 24 de fevereiro, surgiu da vontade de celebrar os jogos junto com a comunidade RPGista. A data foi escolhida por ser o aniversário de Douglas Quinta Reis (falecido em 2017) um dos fundadores da Devir e grande responsável por trazer o Role Playing Game para o Brasil.

O Mundo Guerreiro decidiu ao longo dessa semana, publicar textos sobre as experiências de seus membros no mundo do RPG. Vários entre nós têm jogado por mais de 2 décadas, acumulando experiências, histórias e níveis que trouxeram muitas alegrias até aqui, e que continuarão fazendo parte das nossas vidas por muito tempo, provavelmente até passarmos o bastão para as próximas gerações.

Eu lembro bem quando a prática de narrar e jogar RPG era visto como algo misterioso e de difícil compreensão. Livros não eram facilmente conseguidos (começamos a jogar longe da capital e a internet ainda engatinhava por lá) e os dias de jogos eram celebrados como eventos únicos e especiais. Parentes, namoradas e amigos tinham dificuldade de entender exatamente o que fazíamos trancados num quarto por horas e horas, atravessando noites inteiras, com pilhas de dados, planilhas, mapas e miniaturas.

O seriado Stranger Things em sua primeira temporada mostrou, em momentos que trouxeram forte nostalgia, um pouco de como funcionava as sessões de RPG entre amigos, e a emoção de se enfrentar e sobreviver a incríveis desafios. Jovens amigos sentados em volta de uma mesa, lançando dados e interpretando seus personagens, enquanto um deles fazia o papel de Game Master. Ao assistir tal cena, me lembrei o quanto era inocente meus primeiros anos como jogador, e depois como Narrador.

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Com o passar dos anos, as dificuldades da vida e a pressão da idade, obrigaram a quase todos a valorizar ainda mais os momentos que tínhamos juntos para jogar, que foram se tornando cada vez mais escassos graças a empregos, namoradas desconfiadas, contas para pagar, etc. Foram muitas campanhas e baterias, personagens e histórias criadas, que poderiam facilmente preencher as páginas de dezenas de livros (arrependimento que alguns de nós ainda tem de não tê-los escrito).

Alguns não podiam levar os livros para casa, por que seus pais religiosos acreditavam que o Livro dos Monstros era um manual satanista. Cartas de Magic, miniaturas e dados eram também vistos com desconfiança. Outros tiveram namoradas ciumentas ou que simplesmente enxergavam nosso hobby como algo infantil, idiota até. Éramos os nerds da nossa época, aqueles que curtiam os filmes de Sci-Fi, que haviam lido a Trilogia do Anel muito antes de alcançar os cinemas, que haviam decorado listas de magias, vantagens e pontuações de perícias.

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De certa forma, vivemos muitas vidas, em muitos universos diferentes. Salvamos e destruímos uns aos outros inúmeras vezes. Conhecemos mundos exóticos e, as vezes, semelhantes ao nosso. Alguns aprenderam a ler outros idiomas apenas para poder utilizar um novo suplemento ou classe de personagem. Fortalecemos amizades, vencemos timidez, aprendemos a falar em público como em aulas de teatro e, sem perceber, utilizamos um pouco do que aprendemos dentro dos jogos na vida real, ao utilizar o raciocínio rápido para solucionar problemas do dia a dia.

A cada ano como jogadores e narradores, mudávamos regras e sistemas, enquanto os jogos mudavam um pouco a nós também. Alguns se mudaram para outras cidades, até mesmo outros países. Contentávamos com jogos de RPG para computadores e consoles, na leitura de livros com temas fantásticos e da onda de filmes de heróis que não mais podíamos personificar. Alguns de nós ainda conseguem seguir a tradição que criamos, participando de sessões com novos jogadores, mais novos, e a eles é passado um pouco de tudo aquilo que vivemos e, bem… vivemos.

Ser um RPGísta não é apenas conhecer um sistema de regras, possuir um punhado de livros com ilustrações maravilhosas e sets de dados com cores hipnóticas. Ser RPGísta é ter amigos, imaginação e sede por aventuras! O desejo de contar histórias e fazer parte delas.

Ser um RPGísta é torcer pelo sucesso decisivo mesmo quando as circunstâncias dizem que a falha será crítica.

Longa vida ao RPG. Feliz dia Nacional do RPG! Bons Jogos a todos!

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