Stan “The Man” Lee e Jack “King” Kirby criaram o Pantera Negra em 1966, ano em que o grupo revolucionário de mesmo nome começou a patrulhar as vizinhanças de Oakland, EUA. Na época, disseram que havia sido apenas coincidência, mas a Marvel chegou a mudar o nome do herói para evitar má publicidade. Mais de 50 anos depois, a associação ainda acontece.
Pantera Negra pode não ter sido o primeiro herói negro a aparecer nas histórias em quadrinhos, mas foi o primeiro a ser protagonista e a também possuir superpoderes. Ele iniciou suas aventuras nas páginas do Quarteto Fantástico, desafiando o grupo para testar suas próprias habilidades em preparação para enfrentar o vilão chamado Garra Sônica.
Após se desculpar com o super grupo, ele deixa Wakanda para viajar para Nova York, e acaba por fazer parte dos Vingadores. Entretanto, apesar de ser rei da nação mais avançada da Terra e membro do super grupo mais poderoso da Marvel, não são muitos que estão familiarizados com o personagem. O novo filme dirigido por Ryan Coogler (Creed) está chegando aos cinemas para mudar isso.
Pantera Negra, a.k.a. T’Challa (Chadwick Boseman) já fez sua primeira aparição no Universo Cinematográfico da Marvel no filme Capitão América: Guerra Civil, e criou uma ótima primeira impressão. Não apenas pelo design do uniforme/armadura (feito de Vibranium), mas principalmente pela interpretação digna de um membro da realeza, seja na forma de falar, seja na linguagem corporal.
As sequencias de combate entre Pantera Negra, Capitão América e Soldado Invernal naquele filme foram sensacionais e criaram uma expectativa muito grande para um filme solo do herói, principalmente depois de termos assistido, em uma das cenas pós créditos, um vislumbre do reino futurista Africano. Hoje, depois de voltar da pré estréia do filme, posso finalmente falar sobre a parte que mais me chamou a atenção: justamente Wakanda.

Wakanda
A vida em Wakanda é, ao mesmo tempo, urbana e rural, futurista e tradicional, tecnológica e mística. Devido a sua política Isolacionista, a tecnologia de Wakanda se desenvolveu totalmente independente do resto do mundo. Desse modo, tanto na filosofia do seu design quanto na sua metodologia, sua tecnologia se tornou única. O filme começa contando a origem de Wakanda, desde a queda do meteorito de Vibranium, a interferencia da deusa Bastet, e a união das 5 tribos e da escolha do primeiro rei, sendo criada assim a dinastia dos Panteras Negras. Diferente da até então trilogia do Thor, Wakanda é muito melhor trabalhada que Asgard logo neste primeiro filme, mostrando que esse foi um grande descuido da produtora com o deus do trovão.

Shuri – Irmã mais nova de T’Challa e Mestre Inventora.
Vários personagens novos são apresentados: Shuri (Letitia Wright) é a irmã mais nova de T’Challa, e uma inventora no nivel de Tony Stark. Sua personalidade alegre e cheia de energia, cria uma interação fraterna realista e muito divertida com o Pantera. Nakia (Lupita Nyong’o) é uma espiã e ex-namorada de T’Challa. Sua crença sobre fazer mais a diferença lutando fora da proteção inexpugnável de Wakanda parece ter sido a razão maior do rompimento de seu relacionamento com ele. Okoye (Danai Gurira, bastante conhecida como a Michone, de TWD) é a general da guarda real de Wakanda (chamada de Dora Milaje) e protetora feroz de seu rei. Ainda temos os chefes das outras 4 tribos, a Rainha mãe (Angela Bisset), o shaman Zuri (Forest Whitaker), entre vários outros personagens, todos trazendo características diferentes e ajudando a criar um universo particular e majestoso, com o Pantera Negra em seu centro, mas com suas próprias identidades e objetivos.

Eric Killmonger – Um dos melhores vilões da MCU.
Vilões. Temos neste filme dois dos antagonistas mais tradicionais do Pantera dos quadrinhos, e eles ficaram longe dos típicos vilões genéricos e descartáveis que estamos acostumados a encontrar nas produções cinematográficas da Casa das Ideias. Ulysses Claw (o eterno Gollum e aqui, surtado como na versão dos quadrinhos, Andy Serkis), contrabandista de armas e um dos poucos a ter descoberto sobre a real Wakanda e suas minas de Vibranium. Uma ameaça a assombrar vários lideres do país. O segundo, e numa interpretação incrivel de Michael B Jordan, Eric Killmonger. Sua origem e motivação estão entre as melhores partes do filme.
Aqui entramos na perigosa área dos SPOILERS:
Killmonger é primo de T’Challa, e teve seu pai assassinado pelo próprio pai do Pantera, por querer lutar contra as agressões e racismo na mesma cidade onde os Panteras Negras do nosso mundo foram criados. Para isso, o tio de T’Challa decidiu trair Wakanda, seu Rei e Irmão, e vender os segredos sobre o Vibranium para Ulysses Claw.

Girl Power – Danai Gurira, Lupita Nyong’o e Florence Kasumba.
Representatividade – Um tema bastante polêmico nos últimos anos, talvez tenha a sua maior voz pop através deste filme. Sim, já tivemos Blade, o caçador de vampiros. Porém, Pantera Negra é muito mais que um filme com elenco quase todo formado por atores negros. É um filme que mostra não um país africano sofrido e carente de heróis brancos, mas uma país forte, independente e orgulhoso da sua cultura. Provavelmente seria assim na realidade, se americanos e europeus não a tivessem explorado e dividido de forma tão cruel e desumana. Pantera Negra vai além, e alerta sobre como se manter calado e “neutro” favorece o lado opressor. Sobre o dever humanitário de colaborar uns com os outros, principalmente com os mais fracos, e sobre tomar uma decisão, rompendo com um passado de erros e mentiras, em busca de construir uma nova realidade, mais justa e igualitária. Isso tudo, respeitando o material original, incluindo easter eggs sobre as propriedades especiais do vibranium (absorção sonora e cinética), por exemplo, para deleite dos fãs raízes do personagem. Não se trata apenas de levantar uma bandeira, mas de mostrar através de bons atores, roteiro bem escrito, trilha sonora incrível, que artistas e profissionais negros não merecem o sucesso apenas pela cor da pele ou por causa de executivos da Indústria usando movimentos sérios para lucrar em cima, mas tão somente pelo extraordinário talento que muitos deles possuem.
Pantera Negra não é um filme apenas para negros e minorias. É um filme para todos os seres humanos. O melhor filme da Marvel Studios até aqui.