Realmente parece haver uma certa cobrança sobre Star Trek Discovery e seu ptotagonista, o que justificaria os comentários dos produtores em afirmar que Michael Burnham é e sempre será a protagonista de série.
“Nosso foco é a Discovery e nossa protagonista é Michael Burnham. Essa é a proposta da série, e sempre vai ser.” – Herberts ao The Hollywood Reporter.
O que particularmente acho muito pesado a afirmação dessa maneira, parecendo dizer: não adianta espernear que vamos continuar com ela não importando o que achem, digam ou pensem.
Enquanto a própria Sonequa Martin-Green sai em defesa de sua personagem afirmando que é um exemplo para as mulheres e muitas delas se espelham na personagem… fica parecendo que existe sim, muita pressão com a falta de expressividade e carisma da personagem dentro da série. Chegam a chamar nomes de peso pra escrever roteiros como o season finale que foi escrito pelo roteirista de Torre Negra…
Eu me pergunto se o episódio, e não falo da série toda, não agradou foi por causa de toda uma produção fraca ou realmente Michael Burnham está tirando o brilho de tudo que está sendo produzido? Não vejo a necessidade de se construir forçadamente algo icônico para Star Trek Discovery. Mesmo no início de tudo algo saiu errado, Pike não agradava e não relutaram em substituir o ator e personagem, que foi salvo ao longo da série e o seu substituto, Kirk, acabou se tornando uma referência.
Não se trata de quebrar paradigmas e colocar uma protagonista feminina, a própria franquia já teve isso e muito bem sucedido. Não se trata de dar visibilidade para atores e personagens negros, a série já fez isso também, não se trata de dar visibilidade à esse ou àquele grupo. Star Trek sempre esteve à frente nas discussões filosóficas da humanidade, das diferenças entre as raças, da luta em prol das minorias e isso tudo se passou sem forçar a barra, sem outdoor, sem empoderamentos, a humanidade mostrada na série era a de uma onde não havia distinção étnica entre os seus e as novas raças que surgiam, apesar da discriminação, era sempre tratada com seriedade e dignidade, mas era a federação que levava essa bandeira.
E diga-se de passagem, quer maior “empoderamento” do que um sobrevivente de uma raça de escravos que quando perdia a serventia virava comida se tornar o capitão de uma nave da Frota Estelar? Um personagem que passou a vida inteira na defensiva, com medo de todos a sua volta, controlando a maior nave e arma de guerra da federação?
Nunca se precisou de um talk show para explicar nada, atrair público ou fazer com que os atores entrem nas graças do público e por conseguinte seus personagens.
Vejo uma bandeira errada levantada como desculpa para se atingir um mercado mais comercial e as respostas sobre perguntas referentes à pesquisa, imersão nos estilos das series clássicas, a resposta e sempre a mesma:
“Temos Trekies/Trekers na produção que sabem por nós…” “quando temos dúvidas perguntamos pro Aaron (Harberts) e Gretchen (J. Berg)…”
Focar excessivamente em uma estória romântica pra justificar a construção e/ou as mudanças de um ou outro personagem parece também não ter ajudado muito a série.
“O que realmente me faz é que as meninas possam ver essa história, poderem ver-se refletidas em mim e refletidas em todas as mulheres em nosso show. E então não pára com as meninas. Continua com os meninos. É realmente poder mostrar a nossa juventude uma imagem tão forte, heróica, sacrificial e utópica. Isso significa tudo. E, então, poder ver, dentro do show, o fim do racismo tal como o conhecemos agora e ser capaz de ver a igualdade em geral, através dos universos, é maravilhoso. Sim, você nos vê lutando com Klingons, você vê a Federação e o Império Klingon indo direto, e você vê os sistemas de crenças de combate, mas você vê a paz chegar ao fim. Eu apenas sinto que você tem que ver um herói que se parece com você para encontrar o herói dentro, com certeza. Então, isso significa muito que as pessoas estão a ver que chegamos a estar aqui e nos envolvemos a nossa maneira com a solução. Nós conseguimos ser a solução, e nós podemos mostrar a você o que poderia ser uma solução.” Sonequa para o portal Star Trek.
Poderia até ser um discurso bonito, mas não vejo solução e sim causa, seja na construção de uma discussão racista, seja na redenção da maior causadora dos conflitos da série, causar a guerra entre a Federação e os klingons, trair todos os preceitos da Federação e o seus comandantes diretos… Ah, o Lorca era falso… mas isso não justifica os erros, me parafraseando de um outro post, de uma adolescente, divergente, detergente… Não é um romancezinho, que vai justificar isso, nem a “busca pessoal” pelo seu humano interior.
As bandeiras parecem sim, e não adianta negar, que estão levantadas clamando por batalhas antigas que só não findam porque alguém parece não querer.
“YESSSSS L’Rell !!! Você apostou em cima do Mary Chieffo! É tão poderoso ver uma mulher assumir esse sistema patriarcal !!!! “ Sonequa no Twitter.
Podem até dizer que essas afirmações se referem à personagem, mas todos nós conseguimos ver uma metáfora dentro dessas afirmações ancoradas em tudo que já foi dito até agora, em todas as justificativas.
Posso até parecer estar sendo sexista, talvez seja proposital, para me fazer entender que a própria série não se trata, nem nunca deveria se tratar dessas diferenças de gênero, sexo ou raça, isso sempre esteve superado entre os membros da federação e realmente não vejo que levantar essa bandeira para justificar esta ou aquela escolha no no elenco e enredo de Star Trek Discovery vai salvar, corrigir ou reescrever o que já foi feito e não é um discurso de redenção junto a Federação literalmente copiando a cena de James T. Kirk quando foi reintegrado a frota que vai fazer isso.
No fim o que parece claro é que a culpa não é propriamente do personagem, mas sua interpretação, algo robótico ou vulcanesco demais, o que chega a surpreender pelo fato de ter se destacado em outras interpretações. Não dá pra acreditar que o erro seja unicamente de escolha de elenco ou de construção dos personagens, visto que outros que começaram fracos e inconsistentes terminaram fortes, bem construídos e fortalecidos. Ficou claro a tentativa de humanizar a personagem ao longo da temporada.
Ainda continuo assistindo e acreditando na série, os plots são surpreendentes e a cada reviravolta fico mais ansioso com o próximo episódio, mas me pergunto se é realmente necessário insistir tanto em justificativas e não em um trabalho de recuperação e reconstrução de personagens que já nasceram falhos.
Sou um Treker apaixonado e desesperado, então me perdoem esse ponto de vista em tom de desabafo.
Walber pena.