O que aconteceu com a inocência? E o que Trollhunters tem de tão especial?
A série produzida para a Netflix tem um traço no estilo dos estúdios da DreamWorks Animation que executou o projeto em parceria com a Double Dare You, mas deixa claro as características de Guillermo del Toro no enredo e na criação dos personagens.
A estória se passa em parte abordando o universo de um grupo de adolescentes e seus problemas naturais da idade, tem um que de A Garota de Rosa Shocking, Te Pego Lá Fora e Curtindo a Vida Adoidado, quem viveu os anos 80 sabe muito bem do que estou falando. A outra parte foca as aventuras e desventuras de Jim Lake no submundo dos trolls, apoiado pelo fiel escudeiro Toby, o viés cômico.
Tudo começa quando o personagem principal é escolhido por um amuleto mágico para se tornar o próximo caçador de trolls, ou o defensor dos mesmos e ao estilo de Strangers Things começa a ter uma vida de aventuras em dois mundos bem diferentes.
A ironia se encontra aí, pois para defender os trolls ele deve caçar aqueles insurgentes que cobiçam o poder e são corrompidos por ele, mas em sua maioria, trabalham para trazer de volta o grande vilão, um troll renegado que está aprisionado num submundo abitado apenas por criaturas malignas.
Até aí está tudo bem, não fosse a narrativa de certa forma mais pesada entremeada por diálogos leves e dilemas constrangedores. A série ironicamente não tem uma pegada gore como os títulos voltados para um público adulto, mas é permeada por dilemas morais, traições, assassinatos, membros amputados e ao invés de vermos sangue, temos pedra e carne maculada por cores místicas, mas o medo segue o mesmo nível das demais series voltada para esse público mais experiente.
O núcleo “humano” foca elementos mais normais e estranhos de se ver um uma animação, como adolescentes interessadas em festas com universitários, beijoqueiras de plantão preocupadas com a selfie perfeita, professores indo morar com pais de alunos, e políticos organizando encontros para conseguir mais votos nas próximas eleições.
Os capítulos são muito bem construídos com uma liberdade inspirada e ramificada em contos clássicos de viagens no tempos e personagens multidimensionais com plots pesados e angustiantes que te fazem antecipar os créditos e pular para o próximo capítulo. Trollhunters é acima de tudo uma série sobre amizade, cumplicidade e responsabilidades.
Ainda não sei o que mais me surpreendeu, se a minha inocência ao ver a série de animação e esperar apenas um desenho animado pra relaxar, ou a receita de um material produzido com cara de inocente mas com muito a dizer nas suas entrelinhas deu certo.