Há pouco tempo fui levado por essas forças do destino que desconhecemos e me vi com uma necessidade aterradora de ver novamente o filme “Big“, Quero Ser Grande aqui no Brasil. Não é preciso relatar aqui as minha felicidade em fazer isso, tanto que suas 2:10 horas acabaram virando 4 horas de tantas pausas e plays que tive que fazer.
Passado o momento de euforia, me vi já de madrugada com os pensamentos perdidos na trama, nos personagens e nos dilemas. Não foi difícil ser levado a pensar nos últimos acontecimentos no ramo do entretenimento, digo, nos filmes e produções que estão tomando conta do universo até então tido como infanto-juvenil.
Big deve ter atingido o seu propósito comigo por ter me tirado tantas horas de sono e por ter cutucado um ponto que realmente tem me incomodado. Quando lembro das reviravoltas que tem acontecido no universo dos quadrinhos, um lugar, onde por tanto tempo encontrei alento e me ajudou a criar coragem pra entender essas coisas loucas que o mundo nos reserva, superações que muito poucas vezes encontramos ajuda dentro casa, pois um adolescente enfrenta verdadeiros monstros em sua mente fértil.
Ver esse universo ser corrompido faz revirar as tripas de qualquer pessoa. Ninguém gosta e nem imagina ver seu refúgio sendo maculado, seu jardim secreto sendo preenchido por ervas daninhas. Big traz isso a tona e já naquela época nos alerta sobre esses monstros de Wall Street, que recém saídos da faculdade, com seus diplomas em uma mão e uma pesquisa de mercado na outra bradam regras comportamentais e de consumo imaginadas somente por eles.
Pessoalmente vejo aí dois tipos de pessoas, ambas imensamente danosas. A primeira é aquele tipo de pessoa que acha ser o detentor de todo e qualquer segredo mercadológico e usa fins e meios para a construção de robôs edifícios com o intuito de conseguir o maior lucro no mercado, o esvaziamento absoluto das carteiras daqueles que outrora sustentaram esse mercado com o suor de seus rostos e as restrições de demais desejos adolescentes para guardar poucas moedas e adquirir as revistas dos seus heróis preferidos. A segunda é aquela pessoa que margeia a incompetência pessoal travestida de galinha dos ovos de ouro, capaz de fazer o inimaginável para ser o detentor daquela ideia maravilhosa e que não aceita não ter sido o primeiro a tê-la. Esse tipo de pessoa fuça as lixeiras de profissionais visionários, alteram seus rascunhos e destroem suas idéias originais e fantásticas por simples capricho.
Já cansei de ouvir e repetir aqui que profissionais, diretores, produtores e roteiristas têm enfaticamente usado termos como: “Não é esse o personagem que estou criando…” ou ” Isso é uma adaptação…”
Não sei se entendi direito até hoje, nem se eles falam a mesma língua. Muitas outras pessoas, talvez novas nesse universo, replicam essas mesmas palavras. Posso estar redondamente enganado, mas até onde eu sei esses personagens não precisam ser criados, já fizeram isso a 70 ou 80 anos atrás. Se me falam de adaptação, nesse caso é pegar o que foi criado para o papel e colocá-lo em movimento e interpretá-lo, não é uma releitura, isso sim é passível de mudanças drásticas nos personagens como as que temos visto.
Tudo bem, depois dessas argumentações eles aparecem com aquelas planilhas e pesquisas de mercado, dizendo que o publico quer isso ou aquilo, então eu pergunto: “Por que tanta flopagem?”. Os poucos elogios que surgem nesse obscuro universo vem daquelas produções mais fiéis ao material original, e mesmo essas quando recebem senão e poréns do público, as recebem por mudanças que se distanciam das suas criações originais.
Para quê servem essas tais pesquisas de mercado então? De que adianta criar em cima do que já foi criado? A gente não vai encontrar uma máquina dos desejos nesses parque de diversões da vida, que por sinal também estão sumindo. Não dá pra ficar brincando de ser grande e fingindo que pode descobrir o segredo de tudo se você não teve seus desejos realizados e nem se diverte com o que faz. Talvez fosse necessário que esses diretores, produtores e roteiristas deixassem suas “lutas” pessoais de lado, que baixassem suas bandeiras e reservasse um pouquinho desse eu precioso tempo pra ver, quem sabe pela primeira vez, Big. Talvez depois disso Jack Kirby, Gene Roddenberry, Bob Kane, Bill Finger e tantos outros possam ter um descanso afinal.
Shimi, shimi, vamo lá! Shimi, shimi, vai!!!