A gente já cansou de torcer o nariz ao ver lançamentos nacionais nos cinemas. Estamos muito aquém do que já fomo um dia, quando as produções nacionais eram aclamadas lá fora. Há alguns anos voltamos a viver o ciclo dos filmes independentes mas devido aos eternos interesses escusos das vias de financiamento intelectual no Brasil, muita coisa de sentido duvidoso foi produzido, mas vale ressaltar que algumas coisas boas conseguiram germinar nesse deserto cultural que vivemos e em meio ao mar da “palmas” conseguimos encontrar algumas flores pitorescas.
Muita gente, se for perguntada vai citar de cara Cidade de Deus, que há de se reconhecer que é um bom filme e que só chegou a fazer sucesso aqui depois de explodir internacionalmente e ainda continua sendo aclamado lá fora transformando ele num grande blockbuster.
O Cheiro do Ralo foi um filme que me surpreendeu profundamente, pelo enredo, o ritmo da narrativa, a construção dos personagens. O filme não agradou tanto ao público mas mostrou um olhar diferente que só estávamos acostumado a ver nas produções independentes europeias. Baseado no livro do Lourenço Mutarelli, com a direção de Heitor Dhalia e Selton Melo no personagem principal.
Lourenço (Selton Mello) é o dono de uma loja que compra objetos usados de pessoas que passam por dificuldades financeiras fazendo-o pagar sempre pelo menor preço possível, Lourenço acaba por desenvolver um jogo perverso com seus clientes. Aos poucos ele constrói, em seu relacionamento com os clientes, a frieza pelo prazer que sente ao explorá-los em um momento de aflição financeira. Perturbado pelo simbólico e fedorento cheiro do ralo que existe na loja, Lourenço é colocado em confronto com o universo e os personagens que julgava controlar. Isso o obriga a uma reavaliação de sua visão de mundo e o conduz, de forma única, para um trágico desfecho. De certo modo, sua coleção de tipos se rebela e se volta contra ele. Na loja, Lourenço acaba sendo confrontado pelos personagens que julgava controlar.
Estômago literalmente e sem trocadilhos te pega pelo estômago. Seguindo um estilo Jean-Pierre Jeunet e seu clássico Delicatessen, Estômago atualiza o estilo e o trás para São Paulo. Dirigido por Marcos Jorge e com João Miguel como Raimundo Nonato.
Raimundo Nonato (João Miguel) é um migrante nordestino que chega à cidade grande em busca de oportunidade. Aprende a profissão de cozinheiro, na qual se desenvolve e recebe uma melhor oportunidade de trabalho. Sua vida se complica ao se envolver com a prostituta Iria (Fabíula Nascimento). O filme se passa entre o tempo atual na cadeia e a vida de Nonato no restaurante explorando toda sua capacidade “criativa” culinária.
Reflexões de um Liquidificador é um filme para poucos. ele é basicamente um grande monólogo linear que te conduz a construir uma estória que está fragmentada sob um ponto de vista inusitado. O filme é dirigido por André Klotzel e tem Ana Lúcia Torre no papel principal e Selton Mello como narrador.
Elvira (Ana Lúcia Torre) é uma dona de casa que passa por um momento agitado em sua vida. Onofre (Germano Haiut), seu marido, desapareceu há alguns dias e ela resolve ir à polícia dar queixa do sumiço. A trajetória do casal é narrada pelo ponto de vista do Liquidificador (Selton Mello), que ganhou vida quando, tempos atrás, Onofre trocou sua hélice por outra bem maior.
Dois Coelhos eu conheci ao acaso e o nome me chamou a atenção. O filme segue o estilo frenético dos filmes ao estilo Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes, tenso, cheio de ação, efeitos visuais e com revelações surpreendentes. O filme é dirigido por Afonso Poyart, com Fernando Alves Pinto, Alessandra Negrini, Caco Ciocler, Marat Descartes, Roberto Marchese, Thaíde, Thogun, Neco Vila Lobos, Robson Nunes, Norival Rizzo, Aldine Müller e Yoram Blaschkauer.
Após um grave acidente de carro, no qual uma mulher e seu filho são mortos, Edgar (Fernando Alves Pinto) é indiciado, mas consegue escapar da prisão graças à influência de um deputado estadual, Jader Kerteis. Logo em seguida ele parte para uma temporada em Miami, Flórida, nos Estados Unidos. Dois anos depois, Edgar retorna para a cidade de São Paulo com um elaborado plano em que pretende atingir tanto o deputado Jader (Roberto Marchese) que o ajudou, ele é considerado símbolo da corrupção política, quanto o Maicon (Marat Descartes), um criminoso que consegue escapar da justiça graças ao suborno de políticos influentes. Instigado, Edgar resolve colocar seu plano em prática e se aventura em busca de redenção ao colocar criminosos e corruptos em rota de colisão.
Árido Movie é um perfeito road movie ao estilo brasileiro, contando duas estórias paralelas, uma como foco principal e a outra como pano de fundo e complementar à principal. Árido Movie é dirigido por Lírio Ferreira e trás Guilherme Weber no personagem principal com Selton Melo, Mariana Lima e Gustavo Falcão como o trio do enredo paralelo.
Um famoso repórter do tempo que mora em São Paulo, retorna à sua cidade-natal, no interior do nordeste, para o enterro do pai, que foi assassinado. Lá ele encontra uma parte da família que ainda não conhecia, e que lhe cobra que se vingue da morte do pai. A trama constrói uma estrutura mafiosa em torno do controle da água local para se manter no poder regional à base da força e é chefiada por uma matriarca.
O Palhaço é um desses filmes simplesmente lindo que te remete à infância, ao passado e à família. Selton Melo assina a direção desse longa e também assume o papel de protagonista nos guiando por uma linda trajetória de auto-conhecimento.
O filme conta a história vivida pelo palhaço Benjamin (Selton Mello) e seu pai Valdemar (Paulo José) num circo mambembe durante os anos 70. Benjamin, então, decide viver como um funcionário comum e isto afeta todos ao seu redor e ele próprio.