Aproveitando a data comemorativa do dia do RPG, e a convite de um dos editores do Mundo Guerreiro, resolvi matutar um pouco e vasculhar em minha memória alguma das minhas experiências nesse outrora controverso, mas (quase) inofensivo ‘passatempo’, que tanto significou para mim em minha juventude. Um resumão dessas histórias está descrito aqui nesse texto. Vamos lá!
Como todo adolescente meio nerd da época, já tinha ouvido falar sobre o misterioso jogo de RPG (não fazia nem ideia do que significavam essas 3 letras) e sempre ficava de antenas ligadas quando ouvia algum papo ou tinha alguma notícia desse jogo ainda tão misterioso. Minhas suspeitas eram de que era algo meio secreto, para caras mais velhos e que gostassem das mesmas coisas do que eu: nerdices, histórias fantásticas e jogos.
Um dia qualquer dos anos 90, na praia, quando tinha uns 14 ou 15 anos, acabei fazendo amizade com um cara meio falastrão, que dizia que estava jogando uma aventura de RPG dos, pasmem, Cavaleiros do Zodíaco… Eu nem assistia esse desenho na época, mas foi o suficiente para que eu fosse lá na sessão seguintes investigar.
Foi ali naquela sessão que comecei a entender melhor o que era o RPG, como acontecia e, principalmente, a fazer amizades por conta do jogo. Não consigo mais lembrar claramente quantas pessoas estavam nessas primeiras sessões, mas um dos caras, em especial, é meu amigo até hoje, mais de 20 anos depois.
As sessões de RPG eram relativamente rudimentares, pois nem o módulo básico de GURPS o mestre tinha (e sim apenas um punhado de cópias e anotações de outro mestre, que logo eu mesmo peguei e copiei também). Continuei participando do jogo (e dos jogos subsequentes) e conhecendo novas pessoas, a maioria tão ou mais nerds do que eu…
Em pouco tempo resolvi eu mesmo começar a escrever aventuras. Comecei com algumas aventuras do X-Men 2099 para ganhar experiência e depois parti para um gênero que gostava muito: Japão/Ninjas/Samurais. Nascia ali o ‘lendário’ Missão Ninja, jogo que me proporcionou mais um punhado de amizades que também estão vivas até hoje.
Missão Ninja, porém, foi o início do fim de minha amizade com o mestre original do grupo, muito em parte por conta de suas próprias maluquices e excentricidades (quem já jogou RPG sabe o potencial que essa prática tem de atrair malucos). Num jogo do nosso amigo ‘Migú’ acabei me rebelando, iniciando uma espécie de motim (mesmo que sem querer querendo) e me tornando, por algum tempo, o mestre principal daquele grupo.
Nessa época já havia lido o colossal (para um adolescente) GURPS Módulo Básico e já começava a procurar outros suplementos para enriquecer meus conhecimentos. Posso afirmar categoricamente que o RPG foi responsável por me fazer evoluir em muitas habilidades: leitura, escrita, pesquisa e falar em público.
Com o tempo, outros jogos vieram (como Missão Ninja II), outros mestres e grupos diferentes vieram e se uniram (não sem um ou outro conflito) e novas amizades nasceram. Realmente não posso reclamar. Foram muitas horas de diversão, zoeira, companheirismo e aprendizado que fazem diferença para mim até hoje.
Hoje em dia, nos tempos do Whatsapp, com cada amigo em um canto do Brasil (e até do mundo), ainda mantemos contato e ainda nos encontramos ocasionalmente, com direito a um encontrão’ com mega churrasco e bebedeira por vários dias, mais ou menos de dois em dois anos. É o nosso Churras dos Imortais. E, logicamente, até hoje ainda temos nossas eventuais tretas, zoeiras e, mais importante, ainda renovamos nossos votos de amizade.