Um texto do nosso convidado Antônio Carlos, do Canto da Taverna, compartilhando com vocês suas opiniões sobre cultura Nerd.
Antes de mais nada, todos os pontos de vista deste texto são mais voltados para a realidade brasileira e não para a cultura mundial da época.
“Tá na hora de Hulk dialogar com tchurma.”
(Grafic Marvel nº 1, Hulk & coisa – A Grande Mudança)
Há um tipo cada vez mais raro de nerd no mundo. Matematicamente falando isso é normal, pois as coisas mudam e o tempo passa, o que será sempre bom por um lado e ruim por outro, não importa a época.
Porém, voltando ao assunto, este tipo cada vez mais raro de nerd, são os verdadeiros Old Schools, não aqueles que ficam postando nas redes sociais que estão se sentindo velhos por conta de quando foi exibido Pokemon ou Ben 10 e dizem: “Nossa, estou ficando velho”. O tipo de nerd que estou mencionando, é aquele que sorri, quando vê este tipo de postagem, silencioso, nas sombras de sua “batcaverna”.

Então você se acha “Old School”? Conte-me mais…
Seja em canais famosos; nas redes sociais, blogs e páginas, tratam da nostalgia como seu assunto, mas ao ver a tal nostalgia, eles não conseguem voltar muito no tempo, além do princípio dos anos 90. Parece haver alguma “barreira mística” do tempo que obstrui o conhecimento para além desta data (talvez demanda) e quase não se vê ninguém falando sobre ela e os nerds daquela geração. Quando o fazem, limitam-se apenas ao que foi EXTREMAMENTE famoso e conseguiu sobreviver ao tempo, como He-man, Thundercats, Caverna do Dragão, Simpsons (afinal de contas este é imortal), Xuxa, Ayrton Senna e alguns outros poucos, que são ressuscitados constantemente pela própria mídia em si.
É como se os tão famosos “especialistas” nos assuntos nerds nunca tivessem ouvido falar sobre:
Spectreman e sua atemporal causa de combate à poluição.
O Homem de Seis Milhões de Dólares, (sim, eu ia correndo para a padaria em “velocidade de seis milhões de dólares)
Digby, este sim era o maior cão do mundo.
Trovão Azul, Águia de Fogo e Moto Laser, que máquinas.
Crise nas Infinitas Terras, se você não deu um nó na cabeça com aquela história e não precisou lê-la mais de uma vez para compreender, meus parabéns.
Conan, não o apresentador de programas, mas o Bárbaro;
Biscoitos Crek, dos monstrinhos Crek, e eram gostosos, acredite.
E Doc Savage, o Homem de Bronze? Alan Quatermain e outros heróis que acabavam nos influenciando em nossas brincadeiras.
Homem-Pássaro, Johnny Quest e a saudosa Hanna Barbera?
O Menino e o Pé Grande, Jacques Custeau, Bud Spencer e Terence Hill (que quebra-pau divertido eram seus filmes), o verdadeiro Trinity (não a Carrie Anie Moss em Matrix), porque afinal “Meu Nome Ainda é Trinity”.
Nossos gibizinhos, mais baratos, menores e com mais conteúdo do que temos hoje.
Túnel do Tempo, Terra de Gigantes, O Elo Perdido e Perdidos no Espaço (PERIGO WILL ROBINSON, PERIGO!!!).
Que saudades do Bozo, Que horas são garoto Juca?
Dom Drácula, Família Drácula (mal sapão, mal sapão)
Gênio Maluco (Alguém me chamou e aqui estou!)
Pirata do Espaço (TORPEDO VOADOR!)
A maravilhosa Gulliver e os seus brinquedos, os super heróis da DC e da Marvel, o Forte Apache; e a Estrela então! Dragão da Estrela prometia passar por qualquer terreno, o Ponte-Car; e seus jogos de tabuleiro imortais.
São muitas e muitas coisas, parecem até infindáveis, nas profundezas de décadas, sendo cada vez menos visíveis e desta forma menos lembradas ou revividas. Falar sobre todos renderia um livro grosso (e rendeu, o almanaque dos anos 80 é uma excelente pedida, por exemplo), dariam muitas páginas sobre o assunto e muitas horas de conversa que com certeza iriam marear os olhos dos que passaram por tal data mágica.
Mas qual o motivo deste texto no fim das contas?

Que horas são, criançada?
Contar vantagem sobre os nerds mais velhos?
“Balbuciar” nostalgias como um velho saudoso?
Nada disto.
Este texto lança a pergunta no ar: Onde está o nerd do milênio passado? Especificamente os que tem mais de 35?

Os “Rangers” de verdade
Não que eles tenham desaparecido completamente, mas há de se convir que são mais raros do que tantos “Jovens Nerds” por aí, que falam na verdade mais dos ecos desta época sem tê-la vivido realmente. Não que o nerd oldschool também não tenha vivido dos ecos dos anos 70, 60 e até 50.
A pergunta permanece, onde estão esses nerds? E é aí que entra o propósito teste texto.
Hoje ser nerd é, quem diria, cool, o nerd está na hype. É quase um status fazer parte desta tribo que vem crescendo, felizmente, cada vez mais, tanto que muitos que não o são estão tentando ser. A própria mídia reconheceu este crescimento, e o nerd de certa forma deve isso a ela, principalmente com os seus filmes, apesar de serem cada vez menos nerds na verdade, mas ainda levantarem esta bandeira.
No fim das contas, hoje, ser nerd é muito mais fácil.
Parece inacreditável que o nerd desta época nadasse contra a correnteza, fosse até mal visto na maioria das vezes e acima de tudo, o que parece ser improvável, era uma verdadeira minoria se comparado ao público crescente desta tribo que temos hoje (que infelizmente ainda é minoria, não se iludam).
Lembrando que aqui nas terras tupiniquins, sem comic cons; eventos e produtos que já reconheciam este mercado, a coisa era ainda pior.
Quanto mais antigo você fosse, mais era difícil não virar “pilha” do sistema e deixar os seus dragões, masmorras, naves espaciais, viagens no tempo e há vinte mil léguas submarinas deixar os seus sonhos morrerem, ou sendo otimista, se encolherem até ficarem em um subconsciente; em um torpor como um nosferatu que nunca mais irá acordar. Uma reles lembrança de tempos divertidos e injustamente (e maquiavélicamente) tidos como infantis.
Tenho uma teoria quanto ao porquê de toda esta batalha que não mais existe com o que temos hoje, e no fim das contas, apesar de triste ela é promissora.
Ser nerd não é a certeza de lucidez, conhecimento ou sensatez, mas é o caminho para essas coisas, porque ser nerd é BUSCAR essas coisas, mesmo sem se dar conta, através da ficção, pois não há como manter-se neste mundo de “fantasias”, sem pelo menos “esbarrar” com a necessidade da leitura, da informação, do conhecimento de outras línguas, da ciência e suas possibilidades ou da arte. A não ser que o tal nerd realmente não o queira.
Ser nerd de certa forma é uma vitória contra o lado ruim do sistema. A chama de uma vela para a cultura.
Portanto, jovem nerd, é graças ao Nerd do Milênio Passado que manteve a luz da Lanterna Verde acesa, a bandeira de Fantasia de pé e manter-se firme junto às raças livres da Terra Média, que enfim houve um reconhecimento (apesar da maioria não esperar por isso), fortalecido pelo saudosismo de uma época, um reconhecimento deste “tipo”, que é o nerd, cada vez mais comum na cultura mundial.
Hoje eles não são apenas coroas com seus “cerca de quarenta anos”, mas aqueles que continuando o “legado”, mesmo sem perceberem, mantiveram viva a cultura hoje tão amada de ser nerd.
Hoje eles são diretores de cinema, atores, produtores, youtubers que estão mudando a cultura no país e no mundo, escritores, músicos, seu tio, seu pai e em breve seu avô.
Infelizmente, muitos “pereceram” neste árduo caminho e “sucumbiram” ao sistema, tornando-se apenas “engrenagens sem sonhos” que ao assistir a qualquer uma das séries, animações, filmes desta época mencionados neste texto, ainda dão aquele sorriso quase triste de canto de boca ao lembrarem-se de sua época que parece tão distante, mas ao mesmo tempo, cada vez mais presente. Ser nerd na “terra sem oportunidades” nunca foi fácil.
É importante não confundirmos aquele que realmente GOSTAVA de tudo isso, daquele que apenas PASSOU por isso. Havia e sempre haverá aqueles que apenas estão “se enturmando”, passando o tempo, “visitando” a tribo e que na verdade pouco se importam para esta cultura toda, estão no meio de nós e acreditem, é maioria infelizmente. A boa notícia é que muitos deles acabam sendo “convertidos” para o mundo nerd e se tornam um de nós irremediavelmente, sem falar que entusiastas sempre ajudam.
Apesar de tudo, consigo ver uma poética chama de esperança para esses “nerds caídos” através dos novos nerds. Quem sabe serão os nerds de amanhã, a estenderem às mãos e recuperar os cansados nerds do passado trazendo-lhes o brilho nos olhos a tanto deixado de lado. Vou além, e acredito que isso já está acontecendo há algum tempo, com tantos clássicos retornando, não só nas telonas, mas pra cultura pop em geral. (ok, a maioria é massacrada por diretores e artistas incompetentes, mas há os que se salvam sempre).
A mídia moderna, principal responsável pelo crescimento da cultura nerd, conseguiu o grande feito de ampliar estes números e ressuscitar o que se pensaria estar “morto” para sempre nas memórias de velhos nerds, ressuscitado, mas meio torto muitas das vezes, mas ainda é válido. Porém falta a mesma mídia reconciliar o antigo com o novo, mostrando que ambos tem mais a ganhar co-existindo, afinal de contas existe um universo de possibilidades e experiências únicas antes de seu nascimento (isso vale para todos), assim como há um universo de possibilidades inimagináveis no que está surgindo, no futuro. Há luz no fim do túnel para isso, como pode ser visto nos trabalhos cinematográficos mais recentes de Star Wars por exemplo.
“Isso. Isso é o que eu sou.
Isso é quem eu sou.
Venha o inferno ou maré alta, se eu negar isso
estarei negando tudo o que eu
já fiz, tudo pelo que eu sempre lutei!”
(Arqueiro Verde)