Em 22 de janeiro de 1906 nascia em Peaster no Texas o homem que seria o responsável pela criação de um dos personagens mais icônicos de todos os tempos, que por sua vez detém uma das frases mais significativas para mim.
“O homem civilizado é mais mal educado que o homem bárbaro, pois sabe que pode ser grosseiro e não ter o crânio decepado.” Conan, o Bárbaro.
É com esse espírito que Robert apresentou para o mundo um personagem que em sua trajetória atravessaria terras desconhecidas questionando a civilidade humana e toda estrutura filosófica em que a humanidade se ancora.
Howard foi um escritor prolífero, passeou por diversos gêneros, principalmente pelos de ficção, fantasia e pulp fiction, até desenvolver o próprio, que viria a se tornar um dos seus maiores legados, o gênero de espada e feitiçaria (sword and sorcery), que foi um dos maiores pontos de inspiração para a criação de cenários de RPG.
O personagem mais popular de Howard é, como já dito, Conan, O Bárbaro, que apareceu pela primeira vez no conto A Fênix na Espada. Para fortalecer a estrutura da narrativa do cimério, Robert criou toda uma era com estruturas geográficas, civilizações, e características únicas num período pré-cataclísmico que lhe daria toda uma liberdade criativa para desenvolver seus personagens e aventuras, que chamou de Era Hiboriana.
Além de Conan, e ainda vagando por esse universo de Sword and Sorcery, ele criou Kull, O Conquistador, o picto Bran Mark Morn, Salomão Kane e as guerreiras Dark Agnes de Le Fere e Red Sonya de Rogatino. Muitos desses personagens seriam copiados por outros autores ou sofreriam releituras e passariam a ser parte do canon da Marvel Comics. Essas releituras viriam de certa forma a mudar consideravelmente características únicas dos personagens, como Conan que inicialmente teria uma estatura mediana em relação às outras civilizações da Era Hiboriana e que acabou sendo visto depois como um Arnold Scwazznegger da vida.
Howard se preocupou para que quase todas as suas histórias ambientadas no seu estilo sword and sorcery pudessem acontecer sem contradição num mesmo “universo literário”, desde as aventuras pré-históricas das vidas passadas de James Allison, até a Saga Valusiana de Kull, depois indo para os tempos da Atlântida e da Lemúria (de onde vem o personagem Kathulos/Skull Face), chegando enfim à Era Hiboriana de Conan, assim caminhando para história conhecida. Ele projetou seus contos de modo que um grande cataclismo sempre separasse uma era da seguinte. Dessa forma cada civilização sabia muito pouco sobre sua antecessora, sendo lembrada apenas por mitos.
Em uma das histórias mais memoráveis de Howard, Kings fo the Night, um crossover entre sagas diferentes é apresentado quando um xamã auxilia o rei picto Bran Mak Morn a conjurar magicamente Kull da Valúsia da Era Pré-Cataclísmica para lhe ajudar na batalha contra os romanos e seus aliados.
Mas nem só de espadas e magia viveria Howard, inspirados pelos contos de horror que sua avó lhe contava quando era criança, ele chegou a escrever contos do mesmo gênero no início de sua carreira e após se tornar amigo pessoal de H. P. Lovecraft, com que viria a trocar dezenas de cartas ao longo da vida, ele retornou ao estilo de horror sobrenatural onde também conseguiria obter sucesso. O trabalho intitulado Culto sem Nome por Von Juntz passou a ser considerado parte do canon de Mitos de Cthulhu (cronologia formada pelas histórias de Lovecraft).
Mas o fim da aventura de Howard seria marcada pela desistência, o seu lado guerreiro não viria a ser forte o suficiente para enfrentar as perdas da vida e após ser informado de que sua mãe jamais acordaria de um coma, ele resolveu se suicidar com um tiro na cabeça no banco do seu carro em 11 de junho de 1936. Sua morte não seria tão rápida e levaria cerca de oito horas para sua vida chegar ao fim. Sua mãe morreria no dia seguinte e os dois compartilhariam o mesmo funeral.
Em sua máquina de escrever Robert E. Howard deixou os versos do The House Of Caesar de Viola Garvin.
“Tudo fugiu — tudo está feito, então levem-me à pira —
O banquete acabou, e as lâmpadas expiram.”
Robert E. Howard completaria no último dia 106 anos de idade.