Quem é Shazam!? se tornou uma pergunta comum após a exibição do trailer do novo filme da DCU visto na última SDCC (San Diego Comic Con). Para responder, precisamos viajar de volta para Fevereiro de 1940, quando uma empresa chamada Fawcett Comics publicou uma história em quadrinhos na chamada Whiz Comics #2, que estrelou um personagem chamado Capitão Marvel (vamos voltar a isso). O herói era o alter ego de um menino chamado Billy Batson, que, ao repetir as iniciais SHAZAM dos seis “Anciões Imortais”, se tornaria um super-herói adulto e fantasiado que podia voar, tinha força sobre-humana, se movia com super velocidade, e que foi desenvolvendo um monte de outros poderes ao longo do tempo.
Billy começou sua jornada como um jovem órfão que acidentalmente descobriu o covil do Mago SHAZAM quando entrou em uma estação de metrô abandonada e um vagão mágico na curiosamente intitulada Whiz Comics #2 (dizemos “curiosamente intitulada” porque nunca houve uma Whiz Comics #1). A história foi desenhada pelo artista C. C. Beck e escrita por Bill Parker, e desencadeou o que foi, sem dúvida, a série de quadrinhos mais popular dos seus dias. A Whiz Comics #2 chegou a ser mais vendida que Superman, o que levou Fawcett a criar a Marvel Family, uma equipe de garotos superpoderosos que também podiam usar o poder de SHAZAM.
A edição original também apresentou um dos inimigos mais antigos de Billy Batson: o Dr. Sivana. O vilão originalmente começou como um humanitário que queria melhorar o mundo, mas que foi levado ao mal por corporações gigantes e conservadorismo violento. Sivana também ficou tão cansado da Terra que se mudou para Vênus antes de voltar para o mundo e se tornar a primeira pessoa a perceber que Billy Batson era na verdade o Capitão Marvel, levando a uma batalha contínua entre os dois personagens.
Enquanto isso, no nosso Mundo…
Obviamente que as similaridades nos traços do personagem assim como em algumas histórias com o Superman, levaram a uma briga judicial entre as editoras dos dois personagens, o que provocou uma longa pausa nas histórias do Capitão Marvel (como ele era originalmente chamado). A DC enviou a Fawcett uma carta de cessação e desistência em 1941, alegando semelhanças com o homem de aço. A questão foi finalmente resolvida somente após uma batalha legal de 12 anos entre DC e Fawcett, com a Fawcett pagando $400.000 e concordando em cessar a publicação de todos os títulos relacionados ao personagem.
A DC, em seguida, licenciou o Capitão Marvel e outros personagens de Fawcett em 1972, lançando o título como Shazam, porque “Captain Marvel” se tornou uma marca registrada da editora rival Marvel. Como a grande maioria dos fãs de quadrinhos já sabe, Marvel e DC já estão em guerra há muito mais tempo do que essas discussões entre trolls em fóruns online que tanto nos cansam nos últimos anos. Entretanto, não entraremos mais em detalhes sobre isso hoje.
De volta para Fawcett City
Na Crise em Infinitas Terras, de 1985, a família Shazam foi introduzida na principal continuidade da DC Comics. Em 1991, a empresa adquiriu todos os personagens de Shazam. Em 1994, o escritor Jerry Ordway escreveu uma Graphic Novel original chamada The Power of Shazam, onde vimos os pais de Billy como arqueólogos no Egito assassinados por seu parceiro Theo Adam. Quanto ao resto da origem de Billy, ela permaneceu relativamente perto da história em quadrinhos original da Fawcett.
Billy era um orfão de 10 anos de idade sobrevivendo nas ruas de Fawcett City após o seu tio Ebenezer Batson tomar para si a herança e expulsá-lo de casa. Conduzido pelo fantasma de seu pai até a Pedra da Eternidade (uma dimensão que compartilha também sua localização com uma estação de metro de Fawcett City), ele conhece o Shazam, o mago que lhe confiaria os poderes das 6 divindades (Salomão – Sabedoria, Hércules – Superforça, Atlas – Vigor e Resistência, Zeus – Imortalidade e Poder, Aquiles – Força de Vontade e Coragem, e Mercúrio – Supervelocidade).
O Mago Shazam tinha seus próprios objetivos e quase sempre manipulou Billy para alcançá-los, principalmente para impedir a vingança de seu antigo escolhido, Adão Negro. Apesar de ter assassinado os pais de Billy e trabalhado para o Dr. Sivana, Adão Negro se revelaria também como uma vítima das manipulações do Mago Shazam. Billy mantinha sua personalidade e habitava uma versão ultra poderosa de si mesmo adulto quando invocava o nome Shazam. Com o passar do tempo, foi aprendendo a usar a sabedoria de Salomão para controlar a raiva e medo que o tentavam (sim, lembra bastante certa história de uma galáxia tão, tão distante). O Poder de Shazam se mostrou popular o suficiente para obter uma série em andamento que durou até o final dos anos 90. Depois disso, só veríamos aparições esporádicas do personagem, uma Graphic Novel incrível desenhada por Alex Ross, e então, sua recriação nos Novos 52.

Shazam: O Poder da Esperança
Shazam nos Novos 52
O Mortal Mais Poderoso do Mundo renasce em os Novos 52 nas histórias contadas da JUSTICE LEAGUE #7-11, 0, 14-16 e 18-21. O jovem órfão Billy Batson saltou de lar adotivo para lar adotivo, mas quando ele é atraído para a Rocha da Eternidade, ele está imbuído de poderes além daqueles de qualquer homem mortal! Mas ele pode aprender como lidar com esses poderes a tempo de derrotar o vilão Adão Negro?
Aqui temos o que provavelmente será a maior influência do filme da DCU adaptando o personagem. Billy Batson tem 15 anos de idade, é um orfão que sofreu inúmeras injustiças e que odeia o sistema, se tornando um jovem amargo e cínico. O Mago Shazam dos novos 52 está buscando por um novo campeão que deveria ter um coração puro, e depois de diversas tentativas, seu tempo está se esgotando. Adão Negro foi libertado pelo Dr. Sivana e a humanidade está em perigo. Billy confronta o Mago, afirmando que ele jamais encontrará o que busca, pois a humanidade se corrompeu e as pessoas não podem ser puras. O Mago percebe verdade nas palavras do jovem e então, ao buscar nele alguém com o potencial para fazer o bem, percebe que apesar do comportamento de Billy, o jovem possui o sincero desejo de se tornar uma pessoa melhor. Convencido e sem mais tempo a perder, o Mago ensina as palavras que tornarão Billy em Shazam.
Diferente da origem recontada de 1994, Billy Batson dos Novos 52 não foi predestinado a ser o escolhido. Além disso, um adolescente de 15 anos recebendo os poderes de semi-deus e a aparência do potencial máximo do seu eu adulto, criou uma dinâmica nova e mais fácil de criar uma identificação com o leitor da geração atual. Isso agradou a vários fãs do personagem, e suas novas histórias são consideradas uma das melhores adaptações feitas pelo polêmico universo dos Novos 52 da DC Comics.
Também não podemos esquecer das diferentes encarnações do personagens nas animações da Warner. Sempre trazendo uma mistura de influências, as vezes inspirado nos quadrinhos clássicos da Fawcett, passando pelo run do personagem depois de Power of Shazam, de 1994, e das mudanças que foram vistas em Novos 52. Além da sua participação em Liga da Justiça: Sem Limites, podemos vê-lo em Superman/Shazam!: The Return of Black Adam (que reconta mais uma vez a origem do personagem), Justice League: War (que nada mais é que uma versão animada da origem da Liga da Justiça dos Novos 52), além da minha versão favorita: suas participações especiais em Justiça Jovem!
Assim como diversos outros personagens das histórias em quadrinhos, Capitão Marvel -Shazam, teve suas origens e diversas características mudadas e adaptadas com o passar dos anos e do seu público alvo. A DCU nos cinemas vem amargando resultados muito abaixo do potencial do seu incrível acervo de personagens e é natural, assim como a Marvel nos cinemas buscou forte inspiração na linha Ultimate, que a DC agora busque influência na linha Novos 52, onde quase todas as origens foram recriadas utilizando o mundo como o conhecemos hoje para base e background para novas histórias.
Sim, isso não só pode, como já desagrada muitos dos fãs antigos que ainda acompanham e lembram como o personagem era conduzido pelos seus autores favoritos de décadas atrás, mas sendo realista e colocando aqui minha opinião pessoal, algumas origens realmente precisam ser recontadas e adaptadas. Aranha radioativa? Soldado na Guerra do Vietnam? Acho que não preciso continuar. Quem não gosta dessas novas histórias, poderia tentar se lembrar que muito antes das histórias em quadrinhos, a humanidade tem como hábito recontar histórias dos seus antepassados e de certa forma atualizá-las para novos públicos. Melhor parar por aqui pois, de polêmicas, já estamos ocupados demais. Desejo sorte aos filmes da DCU, e tenho esperança que os filmes do Aquaman e do Shazam possam encontrar seus públicos, além de trazer também algumas alegrias para os nerds velhos (eu, incluído).