De todos os personagens da minha infância o Anjo do Espaço talvez seja o que eu tenha menos lembranças, na realidade apenas fragmentos perdidos. Os acervos on line me trouxeram muito prazer quando reencontrei algum material da época em que foi produzido.

Scott McCloud era o principal agente do Serviço Secreto da Terra (Earth Bureau of Investgation) dedicado à segurança e o bem-estar do sistema solar. Como o Anjo do Espaço (1962), McCloud percorria o universo em sua espaçonave Starduster junto com a sua tripulação, a Força Astral (Interplanetary Space Force), formada por Taurus, um escocês barrigudo e exímio piloto e mecânico; Crystal Mace, especialista em eletrônica e astro-navegação; e o Professor Mace, pai de Crystal e chefe da estação Espacial Evening Star.

Esses temas parecem ser extremamente repetidos e explorados nos desenhos dessa época, órgãos de investigação, agentes espaciais, naves interplanetárias. Tudo isso pode parecer exagero e ultrapassado aos olhos de hoje, mas naquela época, logo após o homem ter pisado na lua, em plena ascensão da guerra fria, esse tipo de super herói estava em alta, toda criança sonhava em ser um agente secreto, ou um astronauta pilotando uma nave espacial, a literatura estava abarrotada desses personagens e ambientações desse estilo criados por autores como Isaac Asimov e Aldous Huxley que perduraram até o início dos anos 80.

Criado na Cambria Studios por Dirk Darley e Dick Brown, mesmo estúdio do desenho Clutch Cargo, e como esse, utilizava a Synchro-Vox, técnica patenteada pela Cambria que sincronizava o movimento labial dos atores e sobrepunha sobre a boca dos personagens na animação.

As animações eram muito limitadas e dependiam basicamente de painéis fixos, figuras animadas e movimentos de câmera para compor o material final. Alex Toth, ex-artista da National Comics, atual DC Comics, esteve junto à equipe do projeto Anjo do Espaço e que mais tarde desenvolveria Space Ghost e a maioria dos personagens da Hanna-Barbera. Também esteve no projeto Doug Widley, criador de Jonny Quest que fez partes das equipes da versão animada de Godzilla, também da Hanna-Barbera e de De Volta ao Planetas dos Macacos, esse para os estúdios DePatie-Freleng.

As buscas por informações sobre a série me levaram à um outro elemento que desconhecia sobre essa animação e que aborda uma outra paixão minha, na década de sessenta saiu um jogo de tabuleiro da série e que apesar de uma indicação infantil, que era comum na época, visto que os jogos de tabuleiro não tinham a abordagem ou o direcionamento para um público mais adulto, trazia uma arte bem ao estilo das HQs francesas de espionagem e ilustrada por ninguém menos que Alex Toth, o que manteve o estilo idealizado para a série.

Parece que todo mundo daquela época frequentava a mesma lanchonete, bebiam café na mesma esquina e na mesma hora. Todos os criadores desses personagens icônicos e de tantos outros estiverem sempre se cruzando nos mesmos corredores, falavam a mesma língua e levaram os mesmos conceitos para tantos personagens que de numa visão superficial podem ser parecidos, mas num olhar minucioso percebemos abordagens e técnicas de apresentação bem diferentes um do outro.

Além disso, o desenho possuía um traço que abusava da luz e sombra, características de arte finalização que eu encontrava correntemente nos quadrinhos desenhados por Joe Kubert, Sal Buscema e Jack kirby, talvez isso se devesse ao estilo adotado nas animações que davam de certa forma uma assinatura única ao desenho.

Ainda não entendo porque o desenho mas traz um ar de seriedade maior que as outras animações que via na época e estranhamente me lembro tão pouco. Acredito que a somatória dos fatos seja o grande responsável por esse respeito absoluto.

Walber Pena