Os Incríveis 2 – A Grande (e Super) Família!

Pouco antes de ir ao cinema, estava trocando uma ideia com meus parceiros de Nerdopolis a respeito das minhas baixas expectativas sobre a segunda parte dos Incríveis. Isso porque, admito, tenho uma implicância de mais de uma década com o primeiro. Os companheiros disseram que aquele filme foi realmente uma ótima sátira ao universo dos heróis, mas eu não consigo vê-lo dessa forma, e sim como um autêntico filme de super-herói, só que sem muita originalidade ou identidade.
O problema é que seu lançamento se deu em 2004, bem no início do tsunami Marvel nos cinemas, e um ano antes da estreia de “Quarteto Fantástico”. Então, eu, chato na época, olhava aquilo como uma grande esperteza. Uma superfamília, poderes parecidos, o batido enredo de adequação ao cotidiano…humm…pronto. É golpe – decretei.

Bem, se a 14 anos atrás as comparações já me faziam torcer o bico, o que essa continuação tardia poderia trazer de frescor?Tanta coisa aconteceu de lá pra cá, e, agora, em que vivemos na expectativa de uma fase 4 do MCU e nos perguntamos como metade do universo poderá voltar do sei-lá-onde, como os Incríveis poderão se mostrar necessários e, finalmente, originais?
Rapaz, eles conseguem!

O grande acerto do filme é o equilíbrio. Ele se assume como uma super sitcom familiar, dando, inclusive, ao nosso querido Beto ares ainda mais acentuados de Fred Flintstone, sem, contudo, perder o espaço da ação e aventura necessários para se construir uma boa história de justiceiros mascarados.
A comparação com séries clássicas como Flintstones, Jetsons, ou mesmo Família Dinossauros, não é um exagero. O humor, assim como nessas referências, não é infantil, pautando-se em muito nas dinâmicas da relação de uma “família tradicional” cujo eixo é trocado sem um devido preparo. Isso joga nos ombros das crianças do time, e, principalmente, nos do pequeno Zezé, a imensa responsabilidade de serem a ligação da gurizada com a trama. E o bebezinho incrível faz um trabalho primoroso, roubando o filme, e se tornando para a maioria arrasadora dos pimpolhos presentes, o personagem mais bacana e poderoso do grupo. Só falta dizer “não é a mamãe!”

Falando da parte heróica propriamente, o diretor Brad Bird acerta na mosca. Ele dá um passo além no climão retrô futurista que estabeleceu no primeiro, e, juntamente com a, mais uma vez, sensacional trilha composta por Michael Giacchino, com suas tantas referências a séries como Batman e Besouro Verde, nos leva a um tempo mágico dos quadrinhos e que anda bem distante das mega sagas cósmicas que estão sendo atualmente exploradas. Algum cara mais saudosista, fã do trabalho do mestre Stan Lee, pode chegar a dizer que, de tudo o que se tem feito, “Os Incríveis 2” é a melhor adaptação de uma verdadeira história de super-heróis do seu melhor período.

A ação é muito bem executada, e os poderes dos cinco são muito melhor explorados. A trama novamente não é das mais originais, mas funciona. E o hipnotizador, vilão da vez, apesar da obviedade por trás da sua identidade, é muito mais interessante e ameaçador do que seu baixinho antecessor.
Outro ponto que vale o debate é a “moral da história” trazida aqui. A sinopse do filme nos faz pensar imediatamente que estamos diante de um filme bandeira, e que a luta da vez é mesmo o empoderamento feminino. De fato, a primeira saída da mulher-elástica, com alguém berrando “poderosa”, deixa esse gostinho. Mas, conforme o a sitcom se desenvolve, percebemos que se há alguma bandeira, ela não é por “a” nem “b”, mas pela UNIÃO da família.

Como disse, os poderes que na verdade são exteriorizações de suas personalidades, são mais bem explorados, logo indo mais fundo nas relações da família. Será que para se empoderar a mamãe realmente precisa ir a luta lá fora? Será que o poderosão musculoso também não precisa “empoderar-se” de seu papel de pai? Será que cuidar de uma família e de todos os seus pequenos universos não demanda um nível absurdo de poder? Será que confiamos nos nossos, em suas capacidades e comprometimentos, ao ponto de seguirmos em frente com a nossa parte sem questionarmos quem está do lado?

No fim, os Incríveis ensinam que o sexo não é o fator preponderante para que um time/família funcione, mas sim que cada um entenda seu papel naquele momento, se alegre com a sua importância, respeitando e acreditando no que o outro precisa fazer. E que nossa visão de poder talvez esteja ainda um pouco confusa…pois tão grande quanto alguém que sai de casa para salvar o mundo é aquele que salva o namoro da filha, ensina matemática e impede um bebê de espalhar o caos. Sério…ser pai ou mãe é uma tarefa hercúlea, digna dos verdadeiros heróis!

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