Mágico Vento criado por Gianfranco Manfredi em 1997 também para a Bonelli Comics como os outros detetives fantásticos que aqui o antecederam. Não é porque uma estória se passa no velho oeste que ela não pode ser sobre detetives. Mágico Vento traz o velho estilo do faroeste com suas tramas fantásticas e místicas.
Para quem lembra dos velhos filmes de faroeste italiano vai se sentir confortável com o estilo e as tramas desenvolvidas, vai se lembrar que uma boa aventura começa com algum dilema que é apresentado para um personagem com espírito investigativo, que é o que não falta no nosso xamã.
Ned Ellis era um soldado americano que escapou milagrosamente da explosão de um trem. Ele foi encontrado por um velho xamã ainda muito ferido, que o levou para sua tribo. Quando acordou, Ned não se recordava de mais nada e passou então a conviver com os Sioux, recebeu o nome de Mágico Vento do velho xamã que o salvou. Tornando-se um “Homem Estranho” para os Sioux que o acolheram e sendo considerado um xamã, ou “homem da medicina”, ferido pelo dom das visões que passou a ter graças a uma farpa de metal depositada em seu cérebro, na ocasião do acidente. Passando a entrar em transe e ter sonhos sobre vidas de outras pessoas ou enigmas que só ele poderia decifrar e que poderiam lhe revelar o futuro. Os índios consideravam isso um dom.
As suas aventuras se desenvolvem no Dakota, um dos estados menos conhecidos e celebrados na tradição western, por volta de 1870: a Guerra da Secessão acabou há poucos anos e estão se iniciando as assim chamadas guerras indígenas.
Ainda sem memória e em busca de seu passado, conhece o jornalista Willy Richards, também conhecido como Poe, devido sua semelhança com o escritor Edgar Allan Poe, e é peça fundamental na reconstrução do massacre no qual Ned perdeu a memória. O feiticeiro sioux Cavalo Manco, que, depois de ter curado Ned, tornou-se seu “mestre”. Foi morto por Louis Beaumont, um oficial confederado praticante da magia vodu, mas continua a acompanhar Mágico Vento como Espírito Guia e aparece para aconselhá-lo quando circunstâncias particularmente difíceis tornam a sua presença necessária.
O Sendor Fulton é inimigo jurado de Hogan, e sua roda de políticos cúmplices, procura incansavelmente pelas provas dos crimes que sustentam toda a atividade do comerciante de Chicago. Sua integridade e a oposição aos interesses políticos e econômicos, que são a base das manobras especulativas de Hogan, custaram-lhe um atentado contra sua vida. Foi Fulton quem propiciou a inclusão de Dick Carr entre os agentes do serviço secreto federal em troca do seu testemunho, além de nunca ter deixado de dar sua preciosa ajuda a Ned e a Poe.
Dick Carr é um ator de extraordinário talento que caiu vítima de uma atroz vingança por sua mulher que queimou seu o rosto durante uma apresentação e onde ele lhe tirou a vido na frente do público. Suas habilidades o fazem assumir a identidade que quiser, inicialmente trabalha ao lado do arqui-inimigo de Ned e depois com a sua acaba se tornando um agente federal sob a identidade de Henry Task. Major Eccles omanda a guarnição militar do território onde se situa a tribo de Mágico Vento. Um homem justo e honesto, capaz de compreender o lado dos índios e de desejar a manutenção da paz. Eccles conhece e aprecia os poderes de Mágico Vento, assim como não ignora que o ex-soldado é procurado, junto de Poe, pelos homens de Hogan, e esta é pra ele uma razão a mais para se posicionar ao lado dos dois amigos.
Little Boy é o agente que trabalha em dupla com Henry Task, é um dos homens mais confiáveis do senador Fulton, além de ser um investigador de primeira linha. Para Ned e Poe ele é um aliado realmente precioso, sobretudo nos casos em que precisam de uma luz para desvendar os intrincados mistérios que se ocultam nos corredores políticos de Washington.
Cole Turpin, chamado Muitas Cores é um simpático aventureiro inspirado na figura real de George Catlin (1796-1872). Pintor, etnólogo e escritor, Cole não hesita em preparar qualquer pequeno e providencial estratagema, mesmo que seja um erro; nem recua diante da perspectiva do furto, se o objeto dos seus desejos é uma interessante relíquia da tradição mágica de alguma tribo. Porém é um sincero e respeitoso amigo das nações indígenas e de suas culturas, que se esforça em documentar essas tradições nos seus esboços e desenhos, ciente de todo o dano que o chamado progresso causa ao imenso e valioso patrimônio espiritual dos nativos.
Mata-a-si-próprio é um heyoke, um “contrário”, isto é, o divertido da tribo. Fala e age ao contrário, e se comporta de um modo paradoxal, no entanto é um homem muito sensível, sempre pronto a confortar os outros mas que também precisa de atenção e de consolo.
Se-recusa-a-parar é a filha de Rabo-de-Touro, o chefe da tribo que acolheu Ned. É uma garota cheia de vida, teimosa e orgulhosa, já bem desenvolvida fisicamente mas não disposta a se casar por nada, pois é muito dona de sua liberdade para vincular-se a um homem. Rebelde e intolerante por natureza, Se-recusa-a-parar é ligada a Mágico Vento por um amor nunca declarado abertamente, mesmo que praticado com muita freqüência.
Rita Fletcher é uma jovem mulher em fuga. Viúva de um camponês que era muito mais velho do que ela, e ao qual era sinceramente afeiçoada, embora sem amá-lo, é forçada a fazer valer as suas razões com a ajuda de uma pistola. Mágico Vento lhe oferece sua proteção, que rapidamente se converte num amor correspondido. Mas nem mesmo ele conseguiria fazer Rita, de origem italiana, embarcar em um navio para a Europa, se o senador Fulton não tivesse intervido providencialmente , arranjando para ela uma nova identidade.
Mágico Vento e Poe se unem para combater um poderoso homem chamado Howard Hogan, o principal inimigo, um suspeito comerciante que enriqueceu com a construção de numerosas cidades ao longo da ferrovia e que exerce atividades ilícitas. A partir daí, os dois companheiros enfrentam uma árdua jornada, buscando tanto o passado de Ellis, quanto expor as patifarias de Hogan. Aos poucos, detalhes surpreendentes sobre a vida do protagonista vão surgindo, e uma sucessão de eventos atravessa o caminho da dupla e mais tarde se descobre, está envolvido na explosão do trem onde Mágico Vento estava.
Além de Hogan, Mágico Vento possui alguns “inimigos” diferentes dos normais. Iktomi ou o Demônio dos Enganos, é uma divindade indígena oculta que espalha o ódio e a discórdia no interior das tribos. Pode aparecer sob várias formas: como uma mulher sensual, um velho repugnante, um gigantesco escorpião de veneno mortal ou ainda uma enorme aranha capaz de emitir poderosas descargas elétricas. Mas a principal arma dele é o engano. Iktomi age sobre os homens misturando o verdadeiro com o falso em suas mentes, distorcendo suas visões, insinuando a dúvida nas suas almas e confundindo os seus sentidos.
O Wendigo é um monstro predador das florestas do Norte. Sempre à procura de carne humana, o ele cresce em estatura e dimensão na proporção do número de vítimas que devora, em uma espiral de horror que nunca tem fim. Whopi, ou a Mulher Bisonte Branco, é uma figura sagrada. Ela deu aos Lakota o Cachimbo da Paz e os iniciou na prática dos seus ritos. Mas às vezes Whopi aparece entre eles como uma garota selvagem e fechada, e se alguém tenta violentá-la, sua fúria se torna incontrolável.
A Besta, uma pavorosa criatura que emerge das vísceras da terra para devorar todo ser vivo que encontra em seu caminho, tem patas afiadas como navalhas e uma garganta que pode engolir corpos inteiros para então cuspi-los após tê-los desossados. Os Mórmons a consideram uma encarnação do demônio, os índios, uma antiga divindade a ser aplacada jogando-se em sua toca ossos de homens e de animais. Mas se isso não basta para saciá-la, então a Besta fica completamente ensandecida e ninguém sabe como pará-la.
Vultur, avvoltoio em latim, era descrito nos antigos tratados de demonologia e teratologia como uma animal monstruoso, a própria e verdadeira encarnação do demônio. Em Mágico Vento, esta antiga representação do Mal é colocada, pelas artes mágicas de Aiwass, a serviço de Howard Hogan, para tornar-se uma horrível criatura alada que a mente de Hogan dá vida e lança contra Ned.
Unindo dois gêneros dois gêneros de quadrinhos: o faroeste clássico e o sobrenatural, Mágico Vento traz uma roupagem inovadora, devido ao fato de ser produzido em preto e branco, os ótimos roteiros, e muito embasamento histórico, graças à extensa pesquisa de seu criador, o roteirista italiano Gianfranco Manfredi.
A intenção de Manfredi é “ dar vida a um western documentado e realista mas que, ao mesmo tempo, apresente numerosos elementos de horror“, o que de imediato chamou a atenção do público italiano assim que a revista fora lançada.
Manfredi narra a história e a mitologia do Oeste sem separar uma da outra. Cada episódio é elaborado com base em uma rigorosíssima documentação, seja no que tange à época, aos costumes, aos ambientes, às circunstâncias e aos personagens históricos que não raro aparecem nas histórias de Mágico Vento, como o Cavalo Louco, Nuvem Vermelha, o General Custer, seja no que se refere às cerimônias e aos ritos e mitos dos indígenas, assim como às crenças religiosas e científicas e às ilusões e superstições dos brancos.
Ultrapassando os limites físicos entre as terras exploradas e colonizadas e aquelas ainda desconhecidas; caminhando por uma linha tênue e sutil entre a dura e concreta realidade cotidiana e o misterioso e indecifrável universo do imaginário. Em ambas as dimensões, que quase sempre se misturam e se tornam uma só, tudo pode acontecer, e até eventos já exaustivamente explorados e descritos pelos historiadores podem aparecer sob um enfoque totalmente novo. Mágico Vento nasceu para atravessar uma última e definitiva fronteira, adentrando naquela secreta “Zona do Crepúsculo” onde as miragens e as ilusões, os pesadelos e os delírios se confundem com a realidade.
“Tive a idéia há alguns anos, refletindo sobre a decadência do cinema western, que, à exceção de episódios esporádicos como ‘Dança com Lobos‘ e ‘O último dos Moicanos‘, parecia-me, e ainda me parece, copia descaradamente o estilo de Sergio Leone. Indagava-me: é possível encontrar um novo modo de contar o Oeste? Então retornei até as fontes e acabei ‘descobrindo a roda’: para os primeiros escritores da Fronteira, o Oeste representava ‘o limite da realidade’. As histórias em fascículos de Buffalo Bill são repletas de fantasmas e de manifestações sobrenaturais, e até as memórias do General Custer nos apresentam as Grandes Planícies como o reino do desconhecido, uma terra de miragens e aparições. Aqui encontrei o fundamento para narrar o Oeste combinando história e lenda, aproveitando, ainda, uma certa propensão minha pelo horror e pelo mágico“.
Gianfranco Manfredi
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