“Num distante conjunto de dimensões de segunda mão, num plano astral que não fora destinado a voar, a névoa estelar flutua e se dissipa…”

Assim é apresentado o universo de Discworld, criado por Sir Terry Pratchett.

As histórias da série de livros Discworld se passam num mundo em forma de disco que repousa sobre quatro elefantes que, por sua vez, encontram-se de pé sobre a casco de uma gigantesca tartaruga cósmica chamada a grande A’Tuin.

Se quiser saber o que é Discworld, basta pegar um pouco de C.S. Lewis, uma porção de Tolkien, RPG e uma boa dose de Monty Phyton. Misture tudo e… Pronto, aí está uma receita para deliciosas histórias cheias de humor ácido, referências ao mundo da literatura de fantasia, cinema, RPG  e história e críticas à nossa sociedade.

Terry Pratchett é um dos poucos autores que conseguem fazer literatura com humor. Em todos os livros você ri muito durante toda a história mas quando chega nos últimos parágrafos… BAM! Toma uma filosofada bem na cara, é sempre algo te faz pensar, enxergando e interpretando todos os acontecimentos narrados de outra forma. O surpreendente é que isso ocorre de forma sutil e só depois que a leitura acaba é que você se dá conta de que recebeu uma lição e que aquilo é muito mais do que um livro para fazer rir.

Pratchett foi por muito tempo o segundo autor de fantasia mais vendido do Reino Unido, só perdendo para Tolkien e mais tarde sendo ultrapassado por Rowling.

 

Os nomes de personagens, locais e títulos nos livros de Pratchett são cheios e trocadilho e referências culturais. Temos por exemplo Cohen, o Bárbaro, também chamado de Ghengiz Cohen, que é uma paródia a Conan e Genghis Khan e também o personagem Leonard de Quirm, que é uma paródia a Leonardo da Vinci, e há uma cena de uma mulher de quinze metros subindo numa torre segurando um macaco nas mãos, uma clara referência a um King Kong às avessas.

Como a série é sobre um mundo e não sobre os personagens, temos diferentes núcleos de que participam das histórias, como os magos, as bruxas, o Morte (é no masculino mesmo) e os guardas. Esses núcleos compartilham o mesmo universo e apenas aqui podemos ver situações como Morte sendo demitido e tendo que arrumar um emprego, bruxas que resolvem problemas usando somente “cabeçologia”, máquinas de tirar retrato que funcionam com pequenos demônios pintores dentro de uma caixa.

Nas palavras do próprio autor: “Discworld não é um universo fantástico coerente. A geografia é imprecisa; a cronologia, duvidosa. Um pequeno círculo de luz viajando no gelado infinito acabou virando a morada de piadas rebeldes e dos últimos acasos”.

A comparação entre Pratchett e Douglas Adams é inevitável. Quem curte Mochileiro das Galáxias não tem como não gostar de Discworld. No Reino Unido a série Discworld rendeu, além dos livros, filmes para televisão, jogos de computador, videogame, RPG e boardgames.

Dos 41 livros da série, apenas 13 títulos foram publicados no Brasil: 12 pela Conrad e 1 pela Bertrand, mas Terry Pratchett continua sendo um autor obscuro em terras tupiniquins.

Além de Discworld, Sir Pratchett escreveu várias outras obras que valem conferir, algumas foram publicadas por aqui como O Fabuloso Maurício e seus Roedores Letrados (primeira obra infanto-juvenil, simplesmente maravilhosa), Os Pequenos Homens Livres e Belas Maldições, escrita em parceria com Neil Gaiman.

Gostaria de falar aqui sobre cada personagem, cidade, trocadilhos e citações incríveis que tem nos livros, mas são 41(!) e o post ficaria extenso demais. Sou apaixonado por esse mundo louco em forma de disco e gostaria apenas de plantar uma semente de curiosidade sobre essa fantástica obra de literatura de fantasia.

Algumas citações:

“Você não pode dar isso pra ela!’ gritou. ‘Não é seguro!’

‘É UMA ESPADA, disse Hogfather. NÃO É PRA SER SEGURO’.

‘Ela é uma criança!’ gritou Crumley.

‘É EDUCATIVO’.

‘E se ela se cortar?’

‘SERÁ UMA LIÇÃO IMPORTANTE.”

“Parece que você não tem nenhum talento ou habilidade’ ele disse ‘Já pensou em dar aula?”

“Dentro de cada velho tem um jovem se perguntando o que aconteceu.”

“O tempo é como uma droga, muito dele acaba matando você”