Não sou um “videogamer”, apesar de ser bem frustrado quanto a isso devido muito mais à necessidade de agilidade, o que era um problema para canhotos no início da era digital, e às decorebas de códigos, mas sou um entusiasta quanto ao uso da tecnologia para o aperfeiçoamento e o aumento da sensação e percepção cognitiva dos jogos analógicos.
Venho acompanhando com certa apreensão o lançamento de Chronicles of Crime, um jogo da tabuleiro de investigação e dedução lançado pela Lucky Ducky Games em campanha de financiamento coletivo no Kickstarter e com promessa de entrega para dezembro de 2018, e que atingiu a impressionante marca de US$ 795.244 para uma estimativa inicial de US$ 15.000.
Quando vi as primeira imagens fiquei feliz, ali tinha um jogo de tabuleiro e, depois de tanto ver muitos jogos abertos e montados na mesa, a gente começa a ter um “olho” pra coisa e ver se tal jogo pode ou não funcionar. É claro que as regras também podem estragar muito jogo, e é nesse ponto que defendo também uma outra linha que, pra quem conhece o tema, uma regra da casa pode salvar, e muito, um jogo que nasceu pra ser bom, mas foi enclausurado e transformado em ruim.
Agora você já pode sacar que eu não gostei muito de alguma coisa, e é verdade. Mas como eu posso não ter gostado se o jogo ainda não saiu? Isso também é verdade e explicável.
Vamos ao jogo:
“Chronicles of Crime é um jogo cooperativo de investigação criminal, misturando a experiência da VR e jogos de tabuleiro.
Com os mesmos componentes físicos (tabuleiro, locais, personagens e itens), os jogadores poderão reproduzir muitos cenários diferentes e resolver o mesmo número de diferentes histórias de crime.“
Até aí o jogo parece bom, existem vários assim no mercado e com o apoio de APPs que trazem novas sensações ao jogo, em alguns casos tiram até a necessidade de um jogador representar o Boss ou ser o jogador alpha que irá conduzir a partida.
Tive acesso a uma versão PnP (Print & Play) liberada para reviews com um tutorial e uma aventura inicial. Jogamos em equipe e a minha decepção começou aí, logo de cara, se você jogar sozinho ou com dez pessoas não muda em nada, apenas um jogador é necessário para se conduzir a aventura, os outros apenas comentam ou bebem uma cerveja, não há interação ou interferência de quem quer que seja.
O APP funciona bem em relação a leituras dos QR Codes que estão em todos os itens do jogo, te permite observar a cena do crime e os locais a serem investigados, mas fica só nisso, apesar da ordem, o quanto e como você usar as cartas fazerem diferença na narrativa da estória e nos acontecimentos. Os óculos VR não funcionaram direito em nenhum celular utilizado, o que de certa forma não atrapalha o jogo, pois você pode seguir sem utilizá-lo.
A sensação final foi a de que eu era apenas um espectador de uma estória narrada por alguém que chegava, contava algo e falava: “vai lá e pergunta pra fulano se ele sabe de alguma coisa”.
Minha experiência final foi de total decepção pois na realidade apenas me pareceu um Criminal Case que foi criado alguns ingredientes para por na mesa e dizer que é um jogo de tabuleiro, apesar de arte dessa linha de APPs serem bem mais atrativas do que a de Chronicles of Crime que trazem um traço levemente infantil que se contrapõem com os temas bem mais pesados, como assassinato, sequestro, drogas e tráfico de crianças.
Para iniciantes ou aficionados por jogos da linha Criminal Case afirmo que será uma experiência sensorial maravilhosa, mas não pegará um público mais avançado nem “eurogamers” ou “ameritrashers”. Mas posso arriscar que há esperanças de uma salvação ou melhoria no jogo, se retirar a necessidade de todos os jogadores estarem no mesmo local e permitir que ajam separadamente, com ações independentes, criando um mecanismo de pontuações individuais, se as investigações ou interrogatórios permitirem que você tenha opções de ações ou diálogos, o que pode alterar e conduzir as histórias por outras vertentes dando mais autonomia aos jogadores ao invés de serem meros expectadores, talvez isso possa trazer uma nova vertente ao jogo e até torná-lo uma grande febre no futuro.
Mas deixo claro, são minhas percepções e opiniões que passo aqui, se você é um desses fãs inveterados do jogos da linha Criminal Case, vai se deliciar com Chronicles of Crime, mas por favor tente pelo menos jogar sozinho.
Walber Pena.