Na crescente vertente de estórias de ficção científica em plenos anos 60, e dos sucessos de título como Eu, Robô de Isaac Asimov, o mundo entrou em discussão sobre o que aconteceria se realmente nesse futuro próximo-distante as máquinas tomassem conta da sociedade e por sua vez do mundo.
A falta de informação e formação de boa parte da população, do medo da supressão da mão de obra humana pelas automatizadas nas fábricas e da crescente evolução industrial e conquistas científicas da época fizeram com muitas pessoas realmente acreditassem nessa possibilidade .
Totalmente inspirado em Tarzan e ancorado nessa ambientação futurista, Russ Maning criou Magnus: O Anti-Robõ (1963), ou Magnus Robot Fighter 4000 AD, seu nome original, publicado pela Gold Key Comics. Magnus era um humano criado por 1A, o primeiro robô positrônico, com consciência e emoções. 1A temia o que a dependência da humanidade em relação às maquinas poderia gerar e tendo conhecimento de um plano dos robôs conscientes em derrubar os humanos do controle do mundo, resolve criar e educar uma criança para impedir que isso aconteça, fiando-se nos princípios das três leis da robótica.
- um robô não pode prejudicar um ser humano, nem, ao permanecer passivo, permitir que um ser humano seja exposto ao perigo;
- um robô deve obedecer às ordens que lhe são dadas por um ser humano, a menos que tais ordens entrem em conflito com a primeira lei;
- um robô deve proteger sua existência, desde que essa proteção não entre em conflito com a primeira ou segunda lei.
Magnus cresce totalmente convencido e de certa forma com uma repulsa inconsciente para com as máquinas sendo treinado por 1A em uma arte marcial do futuro que lhe permite inclusive romper o aço com as próprias mãos. O cenário parece tirado diretamente dos livros de ficção científica da década de 50, com suas megacidades tomando toda a extensão territorial dos países, com domos climatizados, superpopulação empilhadas infinitamente umas sobre as outras determinando seus níveis sociais de acordo com a altura e nível em que vivem.
Essas ambientações se proliferaram ao longo de décadas e até hoje alimentam futuros distópicos no cinema, séries de tv e livros.
Em cenas e capas em que constantemente aparecia lutando contra máquinas, até hoje me surpreendo profundamente com o personagem, as páginas das HQs que lia me levavam para esse futuro que eu acreditava poder acontecer tão rápido quanto a mudança de uma estação do ano, mesmo sem o conhecimento dessas máquinas e computadores tão comuns hoje. Um computador era algo que só aparecia nas séries de TV, como Batman (1939/1966), Space 1999 (1975) e Tunel do Tempo (1966), e mesmo as grandes série de ficção científica como BattleStar Galáctica (1978) e Buck Rogers (1950) não possuíam tais equipamentos e quando surgia um, era o equipamento de uma nave alienígena ou um robô construído sem motivo aparente.
Mas Magnus era acima de tudo humano, apesar de seus implantes simbiônicos que lhe permitia estar em constante contato com o seu mentor, e para contrapor com toda a frieza das máquinas e robôs na ambientação das suas estórias, aparecia constantemente ou salvando, ou simplesmente em uma ocasião romântica, com sua noiva Leeja, que fazia o papel de jovem indefesa por quem o herói sempre luta.
Apesar de ser um personagem não tão conhecido quanto outros, não deixa de ser tão icônico quanto, ao longo de sua vida nas páginas de quadrinhos ou até mesmo nas animações que foram feitas sobre ele, acabou se tornando um personagem underground, mas não esquecido. Em 1991 a Valiant adquiriu os seus direitos e produziu uma série de revistas com suas aventuras, que também apareceu nas páginas da Image Comics e da Dark Horse, atualmente seus direitos estão sob poder da Dynamite Entertainment. ao longo dessa jornada Magnus teve sua origem reiniciada algumas vezes, mas mantendo sempre a base da construção do personagem.
Nessas tantas variações acabou participando de aventuras homéricas como a Predador versus Robot Figher e algumas aventuras ao lado de Solar e Turok, todos fortalecendo essa linha de personagem cult que desenvolveu ao longo do tempo. Por sorte não acabou sendo readaptado para versões tão juvenis que destroem toda a trajetória de personagens fantásticos. Mesmo uma versão fã made dele feito pelo artista canadense Matias Hannecke, que na época causou alvoroço nas redes sociais com uma possível adaptação para uma animate séries que trouxe os traços de um outro personagem, não tão velho, mas já tão icônico quanto, Samurai Jack, onde respeitou esses princípios originais.
É um personagem que pessoalmente gostaria de ver adaptado para o cinema ou para um série de tv, existe muito material de qualidades em suas estórias que não estão tão distantes assim dos materiais produzidos nos últimos anos com seus futuros distorcidos, mundos governados por máquinas e inteligências artificiais ditadoras. Se você tem um desses problemas ou até mesmo todo eles juntos, chame Magnus: o Anti-Robô! ele com certeza vai resolver o seu problema.
Walber Pena