Foi com grande expectativa que comecei a assistir Carbono Alterado no último fim de semana. O primeiro livro desse universo cyberpunk que deu origem a nova série da Netflix vem sendo meu companheiro nas últimas semanas, e apesar de todo meu interesse no gênero, não foi uma leitura fácil.
O fato de ter terminado o livro antes de assistir a série é algo que certamente muda a experiência. Por isso, peço que levem isso em consideração durante a leitura dessa opinião. Como eu disse antes, não considerei a leitura tão fácil. Sou um fã de obras de Ficção Científica e aspirante a escritor desse mesmo gênero, o que me levou a pesquisar sobre várias obras na linha dos clássicos como “A Fundação“, “Snow Crash” e “Neuromancer“. Foi em pesquisas mais recentes que li sobre a série Carbono Alterado escrita por Richard K Morgan.
A série se inicia mais ou menos 350 anos no futuro, em um Protetorado das Nações Unidas, que se tornou um governo totalitário espalhado em diversos planetas colônias na galáxia. Neste mesmo futuro, a consciência humana pode ser armazenada digitalmente e carregada em novos corpos chamados de “capas”. A maioria das pessoas possuem um disco conhecido como “stacks” na base da coluna cervical onde são gravados todas as experiências e memórias do indivíduo. Se o corpo morrer, o “stack” pode ser guardado indefinidamente ou usado em uma outra “capa”.
Takeshi Kovacs, protagonista da série, é um ex- Emissário. Um soldado especial do futuro, parte forças especiais, parte agente de Inteligência, treinado exaustivamente para se adaptar a novas “capas” e novos ambientes, através de uma forma de condicionamento psiquico-espiritual que opera em níveis sub-conscientes. Eles possuem uma memória fotográfica e são capazes de discernir padrões quase imperceptíveis de eventos aparentemente não relacionados. Eles são capazes ainda de entender linguagem corporal e tonalidade vocal, em um ponto onde podem decifrar intenções e manipular as pessoas facilmente. Por causa disso, possuem o controle de suas próprias respostas psiquicas como medo e raiva.
Entre carros voadores, Inteligências Artificiais despertadas e super drogas sintéticas, a tecnologia dos “stacks” é sem dúvida a responsável pela maior mudança na sociedade humana. Tanto a série quanto os livros trabalham muito bem esse conceito de “vitória sobre a morte” e suas consequências. O impacto na religião é uma delas: Católicos pediram para não serem reencapados após a morte dos seus corpos já que acreditam que a alma se dirige ao paraíso quando morrem. Isso os tornou alvo fáceis de assassinos que não precisam temer em serem identificados após a “volta” da vítima.
Não significa, entretanto, que sou exigente e por isso não gostei da série, mas que as referências são percebidas um pouco mais facilmente. Tanto a nova série de TV quanto o livro não possuem diferenças que me incomodaram. O que quase estragou a experiência de verdade foi a parte Noir, que diferente de outro clássico adaptado (Blade Runner), se mostrou o elo mais fraco dessa corrente. Não vou entrar muito no assunto por que eu teria que revelar um grande Spoiler sobre o plot, mas a resolução do mistério assim como a troca das pistas na história por explicações diretas sobre tudo o que aconteceu, acabam por quase ofender o expectador.

Poe (Chris Conner) – Um Hotel jamais teve tanta personalidade. Imagem: Netflix
O ator escolhido para trazer à vida a “capa” mais recente do protagonista Takeshi Kovacs foi um grande acerto na minha opinião. Não que Joel Kinnaman (Alex Murphy do remake de Robocop e o Coronel Rick Flag do esquecível Esquadrão Suicída) seja um ator muito versátil, mas conseguiu a difícil proeza de tornar o personagem antipático do livro em um protagonista que o expectador consegue realmente se importar. O restante do elenco não surpreende, apesar de alguns terem seus momentos (Poe – Chris Conner, principalmente).

Joel Kinnaman como a nova “capa” de Takeshi Kovacs – Imagem: Netflix
Claro, para não se perder o costume, houve reclamações sobre um suposto “whitewashing” na série. Sem diminuir a luta, que pessoalmente considero justa, preciso comentar algo: esqueceram novamente de conferir o material fonte que deu origem a série. Se querem reclamar de um ator caucasiano interpretando um personagem asiático, deveriam bater na porta da casa do autor do livro, e não dos produtores da série. Foi ele quem escolheu a “capa” que Takeshi estaria vestindo durante a maior parte da história original: a de um não asiático.
Eu aprecio muito a aposta da Netflix. Já comentei em outros textos sobre a dificuldade que é para uma produção que usa cenários Cyberpunks, como os recentes Ghost in the Shell e Blade Runner 2049, conseguir trazer um retorno financeiro expressivo. A violência e sexualidade, assim como os temas morais e sociais sobre a imortalidade, foram bem adaptadas do livro para a série. Isso chamará a atenção dos expectadores interessados numa série mais madura, recheada com cenas de ação, efeitos especiais (usados sem moderação) e corpos despidos. Para conseguirmos mais adaptações de obras nesta linha, precisamos torcer para que Carbono Alterado não tenha uma MD (morte definitiva).

Will Youn Lee – Takeshi Kovacs em sua “Capa” original. Imagem: Netflix
Mochila de unicórnio, drogas sintéticas, viagens a Matrix, braços mecânicos é claro IA’s .
E como vc mencionou tem o Alex Murph.
Preciso de uma mesa GURPS CYBERPUNK.
Não sou um grande viciado em série basta ela ser boa!
CurtirCurtido por 1 pessoa