O que houve com os amados tokusatus?
Bem, eu não vou explicar aqui o que são tokusatsus, porque se você não sabe, este texto já não é para você, procure outro assunto em nossa página. Mas se ficou realmente curioso, pode encontrar informações aqui.
“Planeta: Terra. Cidade: Tóquio. Como em todas as metrópoles deste planeta, Tóquio se acha hoje em desvantagem em sua luta contra o maior inimigo do homem: a poluição. E apesar dos esforços das autoridades de todo o mundo, pode chegar um dia em que a terra, o ar e as águas venham a se tornar letais para toda e qualquer forma de vida. Quem poderá intervir? Spectreman!“
Recentemente terminei de rever toda a série de Spectreman (um subgênero dos tokusatus chamado Kyodai Hero). Um feito, depois que parei para pensar que a última vez que tinha revisto toda a série, este que vos fala tinha quase 20 anos a menos e muito mais cabelos. É interessante ver uma obra amada através de outros olhos que apenas o tempo pode nos dar.
Para quem não conhece este personagem (não, não tem nada haver com o maravilhoso universo de Ultraman, apesar de fazer parte do mesmo subgênero) que mora no fundo do coração da criança dentro de mim. O honrado e benevolente Spectreman é uma espécie de androide, construída a semelhança de uma raça de vigilantes cósmicos denominados Dominantes, que salvaguardam planetas habitados que estão à beira de um grande acontecimento potencialmente perigoso, geralmente contra o seu meio-ambiente.
Criado em 1973 e misturando bastante da influência desta década, como os westerns que ajudaram a compor parte do clima da história e principalmente um filme que foi sucesso de bilheteria no final dos anos 60, o Planeta dos Macacos, sim, aquele mesmo com Charlton Heston. Spectreman chegou nas telinhas tupiniquins em 1981, na Record, mas foi em 83 que o conheci através da programação do SBT (canal 11) e fez sucesso rápido, tendo gibi próprio lançado pela saudosa editora Bloch (quase lembro do cheirinho das folhas).
Lembro-me de meu pai tentando melhorar a transmissão da TV para que pegasse mais de três canais (sim, acreditem, isso era muito comum), porque até então só tínhamos a eterna Globo, Band, Record e quase que acidentalmente SBT (isso localizando-se no estado do Rio de Janeiro). Eu nem sabia que existia um quarto canal. Ai, ai infância, que saudades!
Enquanto ele mexia na antena espinha de peixe nova, em cima da casa, eu ficava lá embaixo esperando a magia acontecer, e BUM! A TV mostra uma imagem chuviscada, de uma cena tão sombria e com paletas de cores tão sem cores, que cheguei a pensar que a imagem estava em preto e branco, mas não estava. Nela um colosso com dezenas de metros; com partes metalizadas; uma couraça marrom que constituía o seu torso e uma cabeça também metálica, mas com uma face taciturna, tosca, sem refinamento e expressão, contendo uma espécie de lâmina em sua cabeça como uma barbatana (que mais tarde descobri se tratar de uma espécie de antena receptora na história do personagem) e uma espécie de lâmpada de led, ou algo similar, em sua testa que indicava seu nível de energia, enfrentava uma barata aterradora com o mesmo tamanho, enquanto do espaço, em um disco voador, uma dupla de homens gorilas maquinavam contra o herói, ofendendo-o e torcendo para a gigantesca barata, enquanto uma trilha sonora composta por uma orquestra, para aquela descomunal batalha, arrepiava da cabeça aos dedos do pé (a música de abertura então, não vou nem comentar)… E minha mente explodiu.
A premissa da série é algo que até hoje me emociona ao ver novamente os episódios. A série foca em assuntos de preocupação ecológica, e quem diria que estaria sendo profética em sua temática.
Spectreman é um agente deixado na Terra, feito a imagem e semelhança de uma raça chamada de Dominantes. Mistura-se aos terráqueos com um disfarce humano, com os seus poderes completamente retidos nesta forma, e que transmuta-se entre sua aparência robótica apenas com a autorização de Nebula 71 (a nave dos Dominantes). A prioridade dos Dominantes é o bem estar da Terra e encontrar uma dupla de Simióides (homens macacos alienígenas basicamente) o criminoso Dr. Gori, foragido de sua galáxia por crimes planetários juntamente com seu perigoso vassalo o peso-pesado Karas, que querem fazer da Terra o seu novo “laboratório” e base de operações para seus megalomaníacos planos de vingança e conquista.
Já Spectreman, assume a identidade em Tókio (não podia ser em outro lugar) de Kenji, um homem que vem de lugar nenhum, mas de bom coração e que se mistura com facilidade a um grupo de agentes de proteção ao meio ambiente, gente que trabalha com algo que também é de preocupação de seus superiores.
Mas o drama mais bacana de tudo (e ao meu ver um dos pontos fortes da série), é que junto aos terráqueos, Kenji / Spectreman (interpretado pelo saudoso Tetsuo Narikawa, falecido em 2010), vai adquirindo cada vez mais humanidade e começa a levar toda a sua missão para um lado mais “pessoal”, enquanto os Dominantes (que não possuem este nome à toa) são intransigentes, autoritários e focam sempre no problema maior, portanto para eles, a morte de uns ou outros é válida para o bem-estar da humanidade como um todo. Daí é comum ver discussões entre os Dominantes e seu agente de campo e inclusive punições muitas vezes severas, como abandonar nosso herói em situações extremamente desfavoráveis para tentar dar uma lição a ele. É algo como um mortal voltando-se contra deuses, questionando-os e sendo punido como tal, trazendo um clima muitas vezes dramático ou tenso para a série.
Eu não fazia ideia de que Spectreman trazia para o ocidente (ele não era o pioneiro), algo que tinha sido implantado por um tal de National Kid, anos antes de eu nascer e que seria uma tendência cada vez mais forte com o passar do tempo, o Tokusatsu.
Então muitos outros vieram depois, mas algo estava acontecendo com mais clareza do que um Spectroflash ou um chamado dos Dominantes, ano após ano, tudo estava se tornando cada vez mais colorido e leve.
Foi acontecendo devagar, mas dos combates feitos pelos colossos cromados contra monstros que acabavam sendo desmembrados ainda vivos, decepados, partidos ao meio, explodidos, queimados, e assim por diante, e tudo isso com muito sangue; sem falar nos heróis que muitas vezes sofriam a cada combate e de vez em quando ferindo-se gravemente (arrastando todo o suspense para um próximo capítulo), começou a acontecer algo chamado Super-Sentais (outra variante tokusatsu praticamente da mesma época mas que começaram a chegar no Brasil no começo dos anos 90). Fomos tendo monstros cada vez mais coloridos, os gigantes solitários foram dando lugar a equipes também coloridas com uniformes padronizados, armas que pareciam brinquedos, muita pirotecnia, faíscas e cada vez menos sangue ou morte, e todos os combates acontecendo em uma dimensão chamada “Pedreira”. Ainda haviam os cavaleiros espaciais solitários (metal heroes), mas com o tempo começavam a perder espaço para as super-equipes coloridas com seus uniformes parecidos com roupas coloridas de motoqueiros.
Spectreman neste tempo era algo do passado. Hoje em dia algo pré-histórico alguns dirão e muitos não sabem sequer de sua existência. A série da família Ultra continua viva, mas mesmo ela, algoz enfadonha de tantos monstros, passou a ficar mais “benevolente” e menos mortal e onde outrora destroçava os inimigos de forma dolorosa, passou a lançar raios carinhosos que os acalma e torna-os amiguinhos.
Então neste novo milênio, os kyodai heros passaram a ser cada vez mais raros em comparação aos super sentai e o mercado percebeu que no termo “infanto-juvenil”, o “infanto” era cada vez mais forte para se investir economicamente, e quanto mais “infanto” mais retorno financeiro os produtores passaram a ter. Com isso houve também o estouro dos Power “praga” Rangers no ocidente para plantar a bandeira definitiva deste sub-gênero, e então o que outrora nos deixava tensos, por mais que fosse feito para um público juvenil, preocupados com seu roteiro quase imprevisível, com mortes, momentos sombrios e dramas realmente autênticos, passou a se tornar uma grande brincadeira colorida (na dimensão da “Pedreira”), contra monstros cada vez mais “carnavalescos”, onde todos ensaiavam uma coreografia de uma fórmula já previsível que tornou-se uma assinatura deste tipo de entretenimento.
Não pensem que não gostava de certos super sentai. No começo dos anos 90, tivemos alguns que estreavam a fórmula, como os saudosos Changeman, Flashman e o fantástico Jaspion, mas que ainda mantinham parte do clima sombrio herdado de seus antecessores. Mas tudo se tornou passado.
Os menos atenciosos ou ignorantes no assunto, comentarão preguiçosamente que esta mudança se deve à nostalgia, ou é porque estamos ficando velhos, mas ao “maratonar” a série Spectreman, percebi como a diferença de tom é gritante e ao meu ver, toda esta mudança é resultado de uma geração cada vez mais “babi sitter” que veio se estabelecendo aos poucos e que em algum momento tomou as rédeas de nossa cultura pop/nerd, e eu temo que possamos estar apenas no começo desta grande fase equivocada de nossa sociedade.
Então você pode estar se perguntando que mal pode haver nisto? E nesta hora quase consigo ouvir o Dr. Gori com a dublagem do saudoso Sr. Madruga (sim, era o mesmo dublador e Spectreman TEM que ser assistido com a dublagem brasileira, não cometam o pecado de assistirem em outra língua) na ponte de comando de paredes vermelhas de sua nave, com suas luvas brancas, fazendo infinitos e desconhecidos gestos com as mãos, apenas para dizer: – “Tolo!”.
Seeeeerá que Spectreman conseguirá nos livrar desta invasão baby sitter?
Seeeeerá que voltaremos a ter produções voltadas para o público jovem, sem frescuras?
Não percam o próximo e emocionante episódio deeeeeeee….
Cara!!!! fiquei emocionado lendo esse texto que tanto me fez lembrar de coisas boas da época em que não existia internet e video games avançados…naquela época em que tinha que acordar cedo, ir para a escola e assistir desenhos animados…não tinha coisa melhor do que isso na minha opinião!!!! Sim, lembro de Spectreman com todo o carinho tokusatsu da vida. Lembro da época em que passava no programa da Mara maravilha no SBT…quanta saudades. Lembro dos primórdios da tv preto e branca em que passava spectreman aqui onde moro, não lembro qual era o canal…mas era quase na mesma época em que passava desenhos anime de Yamato, pirata do espaço e speed racer…a maioria desses desenhos animes começou na saudosa manchete, bons tempos !!!!! tanto filmes e tanto desenhos japoneses atuais não me agradam tanto em termos de estar ali assistindo todos os dias…sinto falta da época do auje do jaspion, jirayia e flashman…quanta saudade mesmo…era bom demais acordar cedo e ver aquela tela de apresentação do jirayia o incrivel ninja…Lion man era outro clássico que tanto gosto. Queria ter tempo hoje de poder assitir esses tokusatsus antigos e atuais…infelizmente virei adulto e só dificulta mesmo…temos internet, DVD, PC…mas, tem hora que não adianta…não tenho tempo para mais nada, infelizmente. Gosto de desenhar e infelismente não consigo ter tempo!!!! Seria legal alguém lembrar de spectreman e fazer um filme remake da vida…só para homenagear mesmo, já que duvido superar o antigão…Não se fazem mais bons seriados como antigamente, essa é a verdade!!!! valeu!!!!
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