Prepare-se… Você vai morrer…
Antes de começar a falar sobre o jogo vamos deixar uma coisa bem clara, se você joga ou jogou a versão digital de Dark Souls e vai experimentar uma versão analógica, não espere encontrar todos os ingredientes e experiências nele.
Existe um engano, talvez gerado pelas impressões causadas em jogadores de RPG que passam a jogar versões digitais desses jogos e vice e versa, pois no imaginativo puro da construção de cenários em 3D tem as mesmas características e experiências já que ambos dependem do poder criativo de uma mente louca de algum nerd fanático escondido em algum lugar no mundo.
Dark Souls em especial, foi muito esperado e aclamado mesmo antes do seu lançamento, talvez por isso as expectativas tenham sido grandes demais, atraindo os jogadores de consoles que nunca tinham vivenciado as mecânicas usadas para a construção dos cenários, narrativas, encontros e combates, que nos consoles é determinado por metadados que vão lhes trazendo surpresas sem preocupações além de uma busca no inventário, o apertar de um botão, ou uma série infinita de combinações de xis, quadrado, bolinha e triângulo.
Nos jogos analógicos as decisões precisam ser tomadas com mais seriedade e muitas vezes há um down time, analysis paralysis para os entendidos, que te permitem traçar uma melhor estratégia. Em jogos cooperativos isso é determinante já que cada jogador pode contribuir para o desenvolvimento da estória a sua maneira.
Muito se reclamou da falta de narrativa, que é um item indispensável na versão digital e o responsável pela maior imersão no jogo, nos jogos de tabuleiro não há tanta narrativa, pois isto deixaria o jogo longo demais e teria poucos momentos de interação já que o viés condutor da aventura são as ações e decisões dos personagens. Imagine um texto narrando todo o cenário de um CG e os diálogos dos personagens, a cada cena você teria que ler todas as descrições dos locais, das construções… não me levem a mal, mas a facilidade dos jogos digitais nos deixaram muito preguiçosos quanto ao uso da nossa capacidade criativa.
Nos combates houve muito desapontamento com o uso de dados, houve reclamações de que não adiantava evoluir um personagem e ter faces dos dados que poderiam te dar um resultado crítico. Também digo que nos consoles, quem não cresceu jogando videogames também terá desvantagens, pois boa parte dos resultados está na capacidade de compreender, decorar os comandos e acioná-los rápido, nesse caso a habilidade é do seu personagem ou sua?
A combinação de Deck Building e Dice Roling me agrada muito, pois a construção do seu deck influencia nas habilidades de seu personagem e interfere sim nas possibilidades de combinações dos resultados dos dados, isso se você souber usar, as cartas por sua vez interferem na variação de poderes do personagem te dando a clara sensação que o clássico matar, pilhar e destruir não é uma premissa pra se vencer o jogo e sim boas decisões e gerência de personagens.
O tabuleiro é modular, o que permite combinações diferentes te dando a impressão de estar sempre em um novo cenário. As miniaturas são de altíssima qualidade e extremamente fiéis aos personagens do jogo digital. Além de ser um miniature game seguindo a onda dos ameritrashes, este é um jogo no estilo RPG, com características dos jogos de tabuleiro clássicos.
Algumas empresas entraram no mercado trazendo ingredientes que inseridos no jogo criam uma atmosfera única aos jogadores com efeitos FX.
Outras apresentam cenários construídos em 3D que estão virando uma coqueluche entre os grandes fãs da franquia e dos jogos de tabuleiro.
A imersão é profunda mesmo sem estes ingredientes, e você ainda vai precisar acessar a fogueira das almas para recuperar as suas “Souls”, mas sempre vai depender dos jogadores para o aprofundamento do clima e da tensão, não vai ter cena de suspense, trilha sonora pra dar calafrios, mas com certeza você vai sentir medo e vai decidir não fazer muitas coisas, vai ter muita diversão e sim, você vai ter que iniciar o jogo muitas vezes.Dark Souls é cruel, não é um jogo pra “amadores”, pra quem quer apenas se divertir. O tabuleiro e seus cenários estão sobre a mesa te convidando a explorar, para morrer ou para crescer seu personagem, mas ele deixa uma coisa bem clara: Você não vai conseguir sozinho. O jogo é um cooperativo onde você vai enfrentar diversos lacaios até chegar ao salão do Boss, mas até lá você terá que sobreviver e fazer “uso” dos seus aliados e dependendo dos seus companheiros, num universo de Dark Souls onde tudo te instiga ao contrário, talvez seja o maior desafio, mas fique calmo, se você não confia em ninguém ele também é preparado para campanhas solo.
O Jogo já saiu com 18 expansões com novos Bosses e seus mini bosses graças a um financiamento que esperava arrecadar 50 mil Libras e terminou com a bagatela de 3,7 milhões de Libras.
A experiência de jogar Dark Souls poderá ser surpreendente, se você se desvencilhar da comparação disso ou daquilo. Você ainda está perdido e poderá, se já não está, ser morto ao jogar Dark Souls.