Você realmente se considera um fã?
Não estou falando em decorar nomes de personagens, planetas, naves, saber tudo que a Força é capaz de fazer ou os estilos de combate de cada mestre Jedi.
Muito menos sobre ter todos os action figures, filmes, revistas, livros e demais produtos. Ser fã não é, ou pelo menos não deveria ser, uma competição.
Também não estou falando em ter se desmanchado em lágrimas (como eu), no episódio VIII.
Estou falando sobre a essência da obra, sobre o que é este ícone da cultura pop, que nos faz acreditar que sua existência se permanecerá nos séculos seguintes, sabe-se lá até onde.
Quer goste dos seus demais filmes ou não, em 1977 (78 no Brasil), um jovem cineasta chamado George Lucas, não só trouxe a ideia de um universo inédito para os nossos olhos, como também um conjunto de “regras” que mudariam o cinema e parte da cultura pop da forma como os conhecemos. Nos episódios que se seguiram, estas normas foram estabelecidas e havia ficado claro do que se tratava Star Wars, qual era o ESPÍRITO da franquia.
Estas leis, esta “forma de ser” de Star Wars havia sido tão forte, que mesmo os prequels, após 30 anos de espera e feitos pelo mesmo diretor (ok, não tínhamos mais Irvin Kershner, mas não foi ele quem inventou isso tudo) não foram tão recebidos pelos desejosos fãs, uma vez que Lucas tentava fugir um pouco da essência do que ele mesmo havia criado.
Mas isso é uma obra-prima! Quando ela se torna mais forte do que o seu próprio criador, foge ao seu controle, de certa forma, passa a ser de todos.
Star Wars é isso, além de obra-prima, possui perfil, identidade própria e uma presença tão poderosa que não consegue sequer ser imitada, ninguém se atreve.
E como seria o perfil, as regras de Star Wars (não digo como filme apenas)?
É simples uma vez que esta obra (estou falando da original) tenha realmente atingido o seu coração, independente da época em que você a tenha assistido, você entende com clareza do que se trata.
- Star Wars acima de tudo é uma fantasia espacial, um Space Opera. É claro que as leis da física ainda se aplicam e todos os seus riscos, mas há sempre uma certa “magia” em torno de toda a realidade deste universo, como o som se propagando no vácuo do espaço. Ora, sabe-se lá como é o espaço em outras galáxias, ou além de algumas distâncias infinitas?! Ou você acha que as leis da ciência e da física se aplicam até mesmo “perto do infinito” ou em uma galáxia muito, muito distante? Seria necessária muita “fé” na ciência e no raciocínio de alguns grandes homens, mas ainda reles mortais, ou é claro, eu posso estar redondamente enganado, não nego isto.
- Star Wars sempre foi para toda a família, mas entre bichinhos divertidos e comerciais (ok, nem todos foram tão divertidos assim), cenas engraçadas em uma cantina espacial ou dróids tagarelas, você poderá ver a qualquer momento uma mão decepada, alguém sendo partido no meio ou quem você menos esperava morrendo sem aviso. Quando a coisa é para ser séria, ela é muito séria, e isso não é reduzido para agradar criancinhas ou os seus pais, como algumas franquias de super heróis tem feito cada vez mais.
- Sexo? Nudez? Não, volta pra Game of Thrones (por acaso gosto muito). Esta não é a proposta de Star Wars. Não que as coisas básicas e essenciais da vida não existam neste universo, mas não é esta a proposta da saga. Ela não é tão carnal.
Sabe-se lá o que Leia passou nas patas de Jaba, mas não é este o foco da saga, cujo olhar é voltado para algo muito maior.
- Teletransporte? Ok Trekker, quase caio nesta.
- Sanguinolência? Bem, temos mortes tensas e outras coisas graves como citadas acima, mas não é esta a proposta da franquia também, além disso, boa parte das armas são cauterizantes, o que é uma boa saída para se evitar o gore, mas não se torna menos tenso por conta disto.
- E quanto à Rogue One? Assim como eu, você pode ter amado este filme, uma homenagem sensacional à franquia, mas pra quem realmente conhece este espírito de Star Wars que tenho contado aqui, saberá que Rogue One é a coisa menos Star Wars que já foi feita até hoje, talvez por isso tantos tenham gostado. Daí o motivo pelo qual acho o trabalho do “cauteloso” JJ Abrahms algo que apesar de não ter ousado, manteve-se um pouco mais dentro do espírito da franquia.
É claro que não me iludo, sei que no fim Star Wars é do capitalismo que dá a martelada final sobre o que será ou não de um produto, mesmo que isso gere o descontentamento de décadas de gerações que tanto contribuíram para o sucesso da franquia. Assim está sendo com a maioria dos filmes de super heróis, porque não haverá de ser com Star Wars.
Talvez a Força esteja protegendo nossa amada saga de atrocidades que o mercado podem fazer para atender demanda criada por eles mesmos.
Mas falácias aqui e ali não faltam, pitecos de quem nem assistiu todos os episódios; dos famigerados posers e fãs de última hora, achando o que Star Wars tem de ser ou não, além de Trekkers infiltrados, temos sempre que ficar de olho nesses.
O fã que ama Star Wars, não quer mais do mesmo, mas ele não quer que o “amor da sua vida” mude, vire de pernas para o ar em uma revolução total da ideia. Afinal de contas, você ama aquilo que ama, pelo que ela ou ele é, mesmo com os seus defeitos.
Não precisamos de mudança, apenas de evolução. Mas mesmo que ela não aconteça, o importante é não retrocedermos, se não pelas lembranças saudosas e à revisita das obras passadas.
Que a Força esteja com você.