No final da década de 70, dois agentes do FBI expandem a ciência criminal investigando a psicologia do assassinato e ficando assustadoramente perto de monstros muito reais.
Mindhunter é uma série criada por Joe Penhall, com base no livro Mindhunter: O Primeiro Caçador de Serial Killers Americano, escrito por John E. Douglas e Mark Olshaker e publicado no Brasil pela editora Intrínseca. A série é produzida por David Fincher e Charlize Theron entre outros, e estreou na Netflix em 13 de outubro de 2017 e já foi renovado para uma segunda temporada em abril de 2017, seis meses antes de sua estréia.
O diretor de Seven e Zodíaco apresenta uma série sólida sobre o começo da psicologia criminal. No primeiro episódio um dos personagens diz: “O mundo não faz nenhum sentido, então é compreensível que o crime também não”. Você pode pensar que é apenas mais uma estória sobre psicopatas e a dupla de policiais que não gostam um do outro mas que precisam aprender a trabalhar juntos. Entretanto, após os primeiros episódios, fica claro que existem muito mais camadas envolvendo os dois agentes do FBI e os criminosos que eles perseguem.
Curiosamente, os Estados Unidos, com menos de 5% da população mundial, produziu 84% de todos os casos conhecidos de serial killers desde 1980. As forças policiais não estavam preparadas para resolver os casos envolvendo esse tipo de criminosos, indivíduos aparentemente respeitáveis – atraentes, bem sucedidos, membros ativos da comunidade – até que seus crimes fossem descobertos. Para isso, era necessário uma nova abordagem por parte das forças policiais. Entravam em ação os protagonistas Agente Holden Ford (Jonathan Groff) e Agente Bill Tench (Holt McCallany), orientados pela Doutora Wendy Carr (Anna Torv).
Para entender o que motiva esses novos criminosos os agentes decidem entrevistá-los, voando para diferentes partes do país, e aqui a série aborda também os efeitos que esses contatos exercem não só nos estudos comportamentais, como também na vida pessoal dos agentes.
Já nos primeiros episódios, é possível sentir uma familiaridade muito grande com filmes como O Silêncio dos Inocentes e a excelente série de TV Hannibal, e isso não é por acaso. Essas obras foram pesadamente inspiradas em diversos casos reais de assassinos seriais que assolaram os Estados Unidos entre as décadas de 70 e 80. Os mesmos casos que são apresentados aqui de forma impactante e realista ao longo da série.
Diretor de 4 dos 10 episódios e também produtor da série, David Fincher se mostra à vontade em contar a estória desses personagens que tanto provocam fascínio do público e da reação e aprendizado dos protagonistas, tão vulneráveis aos horrores causados por esses monstros de vidas trágicas quanto qualquer um de nós seria.
No fim do décimo episódio é possível perceber o quanto cada um dos personagens foi afetado pelas experiências passadas nas prisões onde fizeram as entrevistas e no pequeno escritório localizado nos porões da sede do FBI. Não há como não se identificar com os personagens despertando para a realidade muito mais cinzenta que o conservadorismo da época lutava, mesmo que inconscientemente, para reprimir. Aqui é fácil fazer um paralelo com os dias de hoje, onde uma parte da população cada vez maior decide por ignorar todo um cenário de abusos e violência para simplesmente taxar criminosos (normalmente negros, latinos e pobres) como a maçã podre da sociedade.
Mindhunter é uma série muito bem produzida, contando com uma reconstituição de época impecável, uma trilha sonora que merece aplausos e que aborda temas polêmicos como o fascínio por assassinos em série e a origem da psicologia criminal. Alguns podem considerar o rítmo um pouco lento e a ausência de ação frenética tão comum em outras séries pode desagradar outros. Porém, a série é acima de tudo sobre os personagens e o diretor optou por desenvolvê-los gradualmente, alcançando um resultado bem acima da mediocridade que temos visto por aí.
Recomendo!