Você acorda no dia seguinte após assistir um determinado filme e mesmo com sono seus primeiros pensamentos ao abrir os olhos são ainda as cenas e as emoções vividas na sala do cinema. Personagens, efeitos, música, motivações e sacrifícios. Todos os ingredientes reunidos para trazer à vida um filme que foi realmente feito por fãs para outros fãs.
Mas vou tentar não deixar as emoções falarem sozinhas sobre Rogue One pois é um filme que tem no seu maior trunfo sua maior fraqueza. Sem conhecer e já acompanhar a saga Star Wars por todos esses anos, principalmente o episódio IV da franquia (Uma Nova Esperança, primeiro a ser lançado nos cinemas) o filme perde suas maiores armas: O fan-service e a nostalgia.
Cronologicamente Rogue One se passa um pouco antes dos eventos mostrados no Episódio IV e apesar do conhecimento prévio sobre o destino de alguns dos personagens e conflitos que muitos fãs já possuem, o filme não falha em trazer toda uma carga dramática por mostrar esses mesmos personagens enfrentando uma ameaça que sozinhos nada podem fazer. Nesse momento, passamos a entender um pouco mais a fundo os sacrifícios até mesmo morais que a Aliança Rebelde teve que realizar em relação a sua guerra contra o Império e o desespero que sentiu ao descobrir o poder da Estrela da Morte.
Não só da nostalgia e dos fan-services transpira Rogue One. Entra em cena então, no primeiro filme derivado da franquia, um elemento até então não usado em filme algum da saga: Um tom cinzento que substitui o maniqueísmo clássico do dualismo Bem contra o Mal. Cenário mais próximo de uma guerra real onde os esforços para alcançar o bem maior muitas vezes levam os personagens a cometer atos cruéis e desonrados. Para os fãs que gostariam de ver uma estória no Universo Star Wars com um tom mais maduro esse filme preenche muito bem essa lacuna.
Interessante ver o carinho que se há em preencher também os famosos furos de roteiro da trilogia clássica, principalmente no que se refere as falhas de engenharia da Estrela da Morte também do episódio IV. E seja na aparição de personagens famosos que são bem mais do que simples easter eggs, trabalhos em cima da trilha clássica de John Willians, nomes e lugares já vistos nas duas trilogias, tudo no filme torna indiscutível que o diretor Gareth Edwards (Godzilla, 2014) criou uma estória realmente dentro do universo Star Wars.

Capitão Cassian Andor (Diego Luna), Jyn Erso (Felicity Jones) e o droid Imperial reprogramado K-2SO (Alan Tudyk).
Um dos grandes destaques são os personagens. Seja na relação entre Galen Erso (Mads Mikkelsen, incrível como sempre) e sua filha Jyn Erso (Felicity Jones), os amigos Chirrut Imwe (Donnie Yen) e Baze Malbus (Jiang Wen), o Capitão Cassian Andor (Diego Luna, excelente) e seu Droid Imperial reprogramado K-2SO (Alan Tudyk), entre vários outros. Além disso, podemos ver um pouco mais do vilão mais icônico do mundo pop, Darth Vader (com a voz inconfundível de James Earl Jones) trazendo terror com sua presença e poder.
Outro fator que merece ser mencionado é que, apesar dos roteiristas e de diretores da Disney terem negado, o filme tem sim uma mensagem política bastante forte. Não apenas endereçada pelo desenrolar das eleiçoes americanas e o crescimento desenfreado da extrema Direita também em diversos outros países, mas ainda nos conflitos atuais na Síria. Star Wars é inegavelmente uma estória da luta entre um governo autoritário e rebeldes que desejam acabar com os abusos e a violência cometidos por ele. No dia em que escrevo essa crítica, na cidade de Allepo, Síria, as tropas do governo autoritário do presidente Assad massacram as forças rebeldes enquanto incontáveis vidas civis são perdidas no processo.
Guerras. Guerras nunca mudam.
Por fim, Rogue One termina me fazendo pensar o quanto a franquia Star Wars ainda pode fazer por seus fãs. Lembrar que sem a Esperança, é impossível continuar a luta por um futuro de Paz e Justiça. O texto clássico que sobe pela tela no início de cada episódio pode estar ausente neste filme e a explicação parece bem simples. Rogue One é aquele texto, que surgiu em 1977 através da mente genial de George Lucas. E que ainda tem o poder de nos levar para uma Galáxia muito, muito distante.